ARTICULISTAS

Rindo, castigam-se os costumes

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
AnaMariaLSVilanova@gmail.com
Publicado em 22/07/2024 às 19:47
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No livro “Truth in Comedy: The Manual of Improvisation” (Verdade na Comédia: O manual da improvisação – C. Halpern, D. Close, K. Johnson, 1994), os experientes improvisadores esclarecem que tentar ser engraçado não funciona. O que funciona é ser verdadeiro: “A verdade é engraçada. (...) O verdadeiro humor não vem de sacrificar a realidade de um momento para contar uma piada barata, mas de encontrar a piada na realidade do momento.”

O político e escroque William M. Tweed sabia bem disso. Cabeça de um esquema espetacularmente corrupto em Nova Iorque, no século 19, ele controlava grande parte dos meios que poderiam denunciá-lo. Mas não controlava Thomas H. Nast, caricaturista e cartunista político que regularmente retratava a situação com clareza e humor irritantes nas páginas do “Harper’s Weekly”.

Credita-se a Tweed a frase: “Parem essas malditas imagens. Não me importo muito com o que os jornais dizem sobre mim. Os meus eleitores não sabem ler, mas não conseguem deixar de ver essas malditas imagens”. Eventualmente, Tweed foi apanhado e morreu na prisão, desesperado e falido.

Imagine o que ele diria dos memes, essa genial criação da internet, em conluio com a inteligência artificial. Graças aos recursos tecnológicos hoje disponíveis a qualquer um com um smartphone, insuspeitos eleitores agora não apenas veem as malditas imagens, mas as fazem, e a criatividade não para.

É a posição em que se encontra, agora mesmo, o atual governo, apanhado na rede da muito impopular percepção de que os impostos estão aumentando. Ninguém gosta de pagar tributos, mesmo que reconheça benefícios correspondentes. Aquela mordida no orçamento doméstico dói, e muito. Pior ainda é quando nem benefício há, ou, pelo menos, assim se percebe.

O que começou de forma quase protocolar (afinal, ridicularizar o governo de plantão é normal) cresceu de maneira que só as infinitas possibilidades proporcionadas pela World Wide Web dão. E, como os memes retratam uma verdade incontestável e universal, a piada não tem fim.

Quando parece que o assunto está esfriando, novos memes aparecem, e já é possível catalogá-los e classificá-los, por gênero e qualidade. O alvo da brincadeira “sentiu” e vem se debatendo, tentando reagir, sem muito êxito. Fato é que as malditas, verdadeiras e engraçadas imagens estão aí e não há indício de que estejam perto de acabar. Castigat ridendo mores.

 Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

AnaMariaLSVilanova@gmail.com

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