Antigamente, quando a gente ia ao dentista, médico e similares, era hora de ler. Não havia entretenimento portátil, não existiam smartphones nem tablets. Assim, lia-se. Às vezes, com algum planejamento, até havia quem levasse um livro, mas, habitualmente, lia-se o que havia disponível em cada local.
Na maior parte dos casos, eram publicações que iam ficando obsoletas nas salas de espera até que uma alma caridosa as aposentasse em favor de outras menos irrelevantes. Mas não muito. Em geral eram revistas de fofocas e bastante antigas. Lê-las era se sentir quase um vidente.
O famoso casal jurando amor eterno? Ambos já estão três parceiros à frente. A novela que vai começar, cheia de expectativa? Flopou espetacularmente, uma pena. Celebridades, então, cheias de importância, mais tarde, sumidas na falta de talento ou determinação. Ah, inocentes, se soubessem o que eu sei...
Sensação parecida, hoje em dia, é ver seriados antigos. Apenas uma década, ou duas, fazem uma diferença espetacular e grande parte da trama nem aconteceria se os personagens tivessem acesso à tecnologia que, agora, é banal.
Num caso específico, uma paciente se apaixona por seu psiquiatra, num processo chamado “transferência”. A esposa do profissional toma conhecimento da situação e não consegue lidar bem com aquilo.
Ansiosa, descobre o nome da paciente e resolve saber mais sobre ela. Sem alternativa, alicia uma amiga e vai até o local de trabalho da “rival” para, pelo menos, ver como é ela. Claro que o plano não acaba bem e a esposa, por muito pouco, não é apanhada.
Fosse hoje em dia, resolveria com uma busca virtual. Uma rápida consulta e pronto! Lá estão as informações básicas no Facebook ou no Instagram ou, para dados profissionais, no LinkedIn. E sempre com fotos, próprias ou de terceiros.
Mesmo quem prefere não ter perfil em redes sociais, será mencionado por alguém. Satisfazer a curiosidade, até certo ponto, seria brincadeira. O que não mudaria seria a crise de ciúmes da esposa, que a natureza humana não mudou lá grande coisa. Estamos mais sabidos, mas nem tanto.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com