Nos anos 70, as opções de salas de cinema na cidade não eram muitas, porém eram apreciadíssimas. E, como os filmes lançados tampouco eram assim tantos, o público acabava vendo reprises na grande tela. E foi assim que as crianças da época puderam ver muitos clássicos, entre eles “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937), se não me falha a memória, no Cine Uberaba Palace.
O dia oficial de levar a garotada ao cinema era domingo à tarde e lá se iam todos. A essa altura, “Branca de Neve” já tinha décadas nas costas, mas o encantamento era instantâneo. A qualidade das músicas, a fluidez dos movimentos, os bichinhos da floresta, tudo contribuía para a experiência. As famílias saíam do lugar cantando, um par de horas bem passadas.
Esse filme mudou a história do cinema, refletindo a ousadia e o talento do seu criador, Walt Disney. Ninguém acreditava que um conto de fadas poderia ser economicamente viável como longa-metragem. Demasiado trabalho, impossível de ser feito. Mas os disruptores estão aí para quebrarem barreiras, e essa foi uma sem volta atrás. O filme é encantador e a memória afetiva a ele atrelada segue imutável.
Por isso, foi com desconfiança que os fãs receberam a notícia de que a versão em live action, com atores reais, seria bem diferente, mais “atualizada” e com menos romance. Claro que a linguagem de cada época muda, mas a essência, aquilo que faz a história ser amada, deveria estar lá.
A rejeição foi tão forte que, aparentemente, o estúdio tentou voltar atrás e incluir um pouco de fan service, ou seja, dar aos fãs o que eles querem. Porém, encaixar peças incompatíveis não funciona, e o resultado, infelizmente, pode ser visto nos números de bilheteria, bem como em revisões de críticos e canais especializados. Ninguém gostou.
A descaracterização foi geral, desde a protagonista até a vilã, passando pelos sete anões e todo o resto. Tiraram até a música mais icônica, Someday My Prince Will Come (“Meu Amor Virá”), porque fala de um príncipe que, agora, nem príncipe é. Uma pena.
Fãs ou não, ninguém se alegra com o fracasso do projeto. Todo mundo queria mais era estar inundando os cinemas para se encantar, mais uma vez. Sempre há a versão original, enquanto se espera mais juízo e menos ativismo da próxima vez.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil; cinéfila; ailurófila, e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com