Quem tem filhos pequenos na escola sabe que, de tempos em tempos, será convidado a prestigiar algum evento. Serão apresentações únicas, irrepetíveis e, ainda que bastante ensaiadas, imprevisíveis.
São assim as peças de teatro, números musicais, jograis, premiações e celebrações, em geral no jardim de infância, ou como se chamem os primeiros anos escolares agora.
Foi assim que uma pequena família orgulhosamente entrou na sala para ver o desempenho do primogênito, em uma dessas ocasiões. Seria uma festa junina? Dia dos Pais? Dia dos Avós? Quem se lembra? Mas que foi memorável, foi. Naquele dia, além do pai e da mãe, a avó paterna, em visita, se juntou. A presença da anciã coincidiu com a programação escolar, feliz coincidência.
No momento certo, toca a música e entra a fila de adoráveis bagunceiros, num movimento ensaiado diligentemente com a professora e cuja ordem, como manda a tradição, foi solenemente ignorada.
O resultado é que, enquanto todas as crianças levantavam as mãos, o pequeno neto, encantado com a vovó na plateia, as abaixava. Todos se viravam para a direita, ele ia para a esquerda. Ia a classe toda em alguma coreografia elaboradíssima (para eles), o menino, esquecido, fazia qualquer coisa em contrário. Aleatório até o fim.
A plateia toda percebeu a total desconexão e, espontaneamente, ria-se. Sem maldade, só pelo excesso de fofura, mesmo. Os pais, algo embaraçados, riam também, conformados. A avó, ah, a avó... Essa não desceu do posto e, muito sincera, convicta, inabalável, disse:
– Mas olha só! Que gracinha! Todo mundo está errando, o meu neto é o único que está fazendo tudo certo!
Ninguém se lembra bem qual era a ocasião daquele dia nem detalhes da coreografia, mas a crítica extraordinariamente favorável da avó ficou para a história. O neto cresceu, já homem feito nem se lembrava do caso em si, mas apenas dos comentários posteriores. A avó nunca mudou. Mesmo anos depois, ela mantinha a posição da infalibilidade nepotal.
Caso alguém tenha alguma dúvida: se uma senhorinha, por mais simpática que pareça, pensa que está todo o mundo errado e só ela está certa, em que pese os seus cabelos brancos, isso não lhe dá razão.