Cada cidade tem sua cota de eventos difíceis, e Uberaba não é exceção. Em 2003, aconteceu o pior desastre ambiental da sua história, quando um trem carregado de produtos químicos inflamáveis descarrilou na região, o que fez com que seu conteúdo contaminasse o abastecimento de água local.
De repente, as fontes conhecidas do precioso mineral foram cortadas, e todo mundo ficou sem água na torneira ao mesmo tempo. Equipes de emergência trabalharam sem descanso no local do acidente, mesmo assim, vários dias se passaram até que a situação fosse normalizada.
Não havia outro assunto; só se falava em água. Como conseguir, quem tem, onde há fontes confiáveis, quem tem poço artesiano, preço de garrafões e caminhões-pipa... a água era o único tema de conversa.
Conforme expressa a sabedoria do povo, “necessidade faz o sapo pular”, e as pessoas saíram saltando. Foram tomar banho no clube, na academia, no trabalho, lugares que contavam com fontes alternativas, fosse por motivo de distância, custo ou conveniência. Mas era complicado, e a maioria se conformou em reduzir a frequência, um custo para um povo tão asseado.
Cozinhar virou uma operação de estratégia sofisticada. É água do começo ao fim, desde a preparação até a higienização de todos os utensílios. Limpar a casa, lavar roupa, jogar uma água no carro, tudo ficou para depois. Houve quem viajasse a cidades vizinhas para um banho bem tomado, uma refeição completa, um dia de paz.
A situação atual é diferente, porém guarda algo em comum. As queimadas na região cobriram a cidade de poeira e fumaça. A dor é compartilhada com muitas outras cidades, até em estados vizinhos. A comunicação hoje é infinitamente mais sofisticada do que há 20 anos, assim a informação circula rapidamente, e é muito mais capilar. Quase se pode acompanhar o avanço da nuvem pelas mensagens que chegam.
Também vem bastante informação sobre prevenção e lugares a evitar. De repente, todos estão atentos ao céu e irmanam-se no cuidado comunitário. O assunto predomina em cada conversa; ninguém está fora.
De tempos em tempos, há um trem no caminho, mas os uberabenses enfrentaram a falta de água naquela e em outras ocasiões, e vão vencer mais esta batalha contra o fogo. E pedir uma chuvinha a São Pedro nunca é demais!