Em 1971, na Universidade de Stanford, foi conduzida uma experiência que, ainda hoje, choca. Uma prisão foi improvisada nas suas instalações e voluntários se inscreveram para nela entrar, como prisioneiros ou como guardas.
De acordo com as condições acordadas, todos os participantes tinham a prerrogativa de desistir a qualquer momento. Os prisioneiros tinham bem claro, o tempo todo, que não estavam, de fato, detidos. Os guardas bem sabiam que não estavam a garantir a lei e a ordem, mas apenas exercendo um papel.
Mesmo com todas as salvaguardas possíveis, voluntários em ambos os papéis entraram nos personagens a ponto de o processo todo ser interrompido bem antes do prazo previsto para sua conclusão.
Os “carcereiros”, rapidamente, começaram a tomar ações cada vez mais sádicas. Os “prisioneiros”, por seu lado, assumiam a identidade designada, a ponto de esta transbordar além das paredes da “prisão”. A mãe de um deles chegou a escrever ao professor/diretor pedindo por seu filho e assinando-se “a mãe do 1234”.
Entre os muitos aprendizados da controversa experiência está a questão da influência do anonimato no comportamento dos guardas. De salientar que não é necessário que tal anonimato seja real para que se observe o efeito.
Uma das primeiras mudanças que esses fictícios agentes incorporavam era o uso de óculos escuros. Apenas ocultar os próprios olhos contribuía para a execução de atos cada vez mais insensatos e agressivos.
Imagine-se, então, o que ocorre quando alguém com intenções menos boas tem um alvo em mente e, diante de si, apenas um teclado? Em solidão total, pode despejar toda a pequenez do seu maltratado ego num texto delirante e libertá-lo para o mundo, via internet. O potencial de danos é enorme. Ocorre todos os dias, e pode ser com qualquer um.
A situação vem escalando, ano após ano, com picos ainda mais extremos quando são realizados grandes eventos. Com o destino do mundo em jogo, os próximos doze meses prometem.
Entre os muitos votos para 2024, segue aqui este modesto, desejando mais responsabilidade em geral, inclusive no uso das redes sociais. E bom ano a todos!
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com