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A Volta dos Dinossauros

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 26/10/2022 às 19:02Atualizado em 16/12/2022 às 00:12
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Está circulando por aí um pequeno vídeo com um trecho de um programa infantil muito popular na década de 90, a “Família Dinossauros”. O personagem mais famoso era o bebê, que preferia sua mãe a qualquer outra pessoa dinossáurica no mundo, daí o bordão “não é a mamãe, não é a mamãe”, impossível de escapar à época.

O excerto agora famoso é parte de uma história em que, um dia, ouve-se uma palavrota inconveniente na TV. Os adultos reagem meio escandalizados, e o bebê, sem compreender o significado, percebe a reação à sua volta e começa a repeti-la, só para “causar”. Ou seja, uma criança típica. De pouco adiantam as súplicas dos pais; o rebelde persiste.

O pai dinossauro recorre à corte para pedir a proibição da palavra, de forma a não ter que lidar com a situação. Este é o trecho ora repopularizado e perfeitamente encaixado nos tempos atuais. A corte concede e vai além, proíbe várias palavras, por solicitação de cidadãos preocupados.

E por que parar por aí? Uma vez que ingressaram nessa trilha, aproveitam para emitir várias normas absurdas que ninguém entende mais para que servem. Não têm lógica alguma, são a resposta desastrada a múltiplos pedidos, e cada dinossauro tem qualquer coisa a resolver com uma regra que vai impactar todos.

No fim, a solução vem pela matriarca, vovó Zilda, que convence o bebê a não dizer mais o incômodo epíteto, apenas com jeitinho e a troca por uma história do livro preferido. Uma efetiva aprendizagem social para o pequeno monstrinho. O pai contempla, estupefat “era só isso?”.

O mais interessante é que todo aquele episódio foi construído sobre uma palavra fictícia. Em vez de usarem uma obscenidade corrente para conduzir a narrativa, preferiram um neologismo (ou seja, criaram uma palavra) que não queria dizer nada. O efeito prático disso foi colocar toda a audiência ao mesmo nível do bebê. Ouvimos a palavra, não fazemos ideia do que ela significa, e reagimos ao comportamento dos personagens a ela. Fica clara a necessidade de falar sobre a tal palavra “feia”. Proibir não é o caminho; é conversando que se chega a um entendimento.

É absurdo tentar interditar palavras e ideias à força de leis. O que se pretende? Impedir pensamentos e questionamentos? Quando foi que isso deu certo? Claro que essa proibição não vai acabar bem e pode levar a caminhos tenebrosos. Além de perigosa, a censura é ridícula. Até os dinossauros sabiam.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

AnaMariaLSVilanova@gmail.com

 

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