Foi Heródoto, ainda no período a.C., que, andando pelo Egito, encontrou ali umas criaturas belas e misteriosas, elegantes e cheias de personalidade e que abanavam a cauda, o que lhes resultou no nome ailouros (de “aiol” e “ouros”, o “balançar da cauda”). É por isso que, até hoje, nós, os que amamos gatos, somos ailurófilos.
Alguns leitores mais assíduos e antigos da coluna de meu pai talvez se lembrem de uma chamada “recado ao motorista que atropelou a gata da Aninha”. Pois é, raros foram os tempos em que não compartilhei a minha vida com um felino amigo. Recentemente, organizando meus livros com intenção de facilitar o acesso e liberar aqueles destinados a uma nova vida, dei-me conta de quantos livros sobre gatos tenho. Paixão também se ensina, mesmo sem querer. Quando meu filho ainda estava na escola primária, na primeira oportunidade que teve de comprar um livro (livraria itinerante) chegou a casa com um compêndio sobre gatos, dos melhores que já vi.
Parte de amar gatos passa por entendê-los. Hoje em dia a ignorância diminuiu e já é mais raro encontrar quem diga que gatos pretos dão azar. Ainda assim, quando um dia 13 cai numa sexta-feira, por todos os lados saltam alertas para que os donos protejam seus bichinhos. Se for um gato que normalmente sai à rua, nesse dia fica sem passeio.
Talvez, porém, o engano mais frequente que ouço é “gato não se apega às pessoas; ele se apega à casa”. Isso não é verdade. Gatos se apegam às pessoas sim, e muitíssimo. Eles sofrem e ficam ansiosos com separação. Gatos também são muito territoriais. Chegam a conhecer o lugar onde vivem com uma riqueza de detalhes, minúcias, cheiros, distâncias, alturas, reentrâncias, que nós só supomos. São famosos casos de gatos que ficam cegos e, desde que mantenham os bigodes (aparelhos de localização e detecção avançado) vivem muito bem, desde que permaneçam no ambiente que conhecem.
Gatos tampouco são capazes de compreender as voltas da vida, mesmo que sejam muito boas. Você pode tentar sentar o seu bichano e explicar-lhe: “Veja, Mimi, eu aqui pago aluguel. Lá na casa nova, vou pagar prestação, mas depois de 20 anos a casa será minha! Não vamos mais ter que nos mudar. A área de serviço lá é maior. Vou ter um escritório, etc...” Quando você se mudar, tudo o que o gato pensa é: 1 - Não conheço este lugar. 2 - Vou voltar para onde conheço; era tão bom. O gato tenta voltar para a casa antiga, porém se ele chega a encontrar o lugar, entra num estresse tremendo, porque já não é nada familiar e, mais importante, aquele humano que ele ama não está lá. Assim sendo, o melhor a fazer é levar o gato e prever um período de adaptação na nova casa. Durante um mês, ele vai tendo oportunidade de conhecer o novo lugar, um cômodo por vez. Após esse tempo, ele já se familiarizou com todos os novos cantos, deixou de ver a situação como uma ameaça e se acostumou a estar com seu humano neste novo local. E feliz vida para nossos companheiros felinos!