Há quem chore vendo filmes. Há mesmo quem veja filmes para chorar. E há os que têm “coração de pedra” e, quando percebem por onde aquilo vai, se fecham, avessos à manipulação. Por isso, quando um desses “insensíveis” se comove vendo um documentário, é porque a coisa é séria.
É recente o filme, chama-se “Acolhidos” (Expressão Brasil, 2022), e conta histórias reais de venezuelanos que deixaram seu país e pensam que o Brasil é o paraíso. Por quê? Vivem num palácio por aqui? Têm serviçais a seu cargo? Ganharam na loteria? Não. É porque podem comer frango.
Esse é o relato que se ouve de uma jovem mãe que não esconde a felicidade por, depois de tanto tempo, comer esse simples prato, à vontade. Outro fica emocionado em frente ao mercado de peixes, quase vai às lágrimas. Um engenheiro industrial, hoje catador de lixo, finalmente tem dignidade e condições de cuidar da sua família. Está reconstruindo toda a sua estrutura de vida, depois de chegar sem nada.
E um senhor de 60 anos conta como caminhou por 30 dias para chegar ao Brasil. A cada barreira que encontrava na estrada, ia deixando algo de valor, até ficar só com a roupa do corpo, mas chegou. Depois de contar sua história, ele diz o que há no Brasil e que falta por lá: esperança. Passa, então, a listar suas capacidades, é professor de inglês, padeiro e mais umas quantas coisas, e acredita que pode contribuir com esta sociedade que o acolheu. Não pede esmolas; quer trabalhar.
São todos muito gratos, têm isso em comum. Também estão tristes, muito tristes. Além de deixar família e projetos de vida para trás, constatam o que lhes foi tirado, muito além de meios de sobrevivência. Observam profissionais brasileiros trabalhando e admiram a ética e dedicação com que o fazem. Já não se vê muito disso por lá, corrompidos que foram por expropriações em série, seguidas de benesses paulatinas. Só vendo para entender esse cruel sistema de condicionamento e subjugação em massa.
O pior é constatar, ouvindo os cineastas, que as histórias mais chocantes ficaram de fora, porque muitos não quiseram falar em frente às câmeras. Ainda têm medo, ou a tristeza é demasiado grande.
Todos agora olham com apreensão os amigos brasileiros e esperam que não se juntem a eles na tristeza.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com