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Como Amar o Próximo

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 25/05/2021 às 07:36Atualizado em 19/12/2022 às 03:33
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Amar o próximo como a ti mesmo. Muito difícil.

É fácil amar quem nos ama. Até aí, estamos bem.

Com algum esforço, podemos avançar um nível e amar a humanidade em pessoas não tão chegadas, porém neutras. Um vizinho com quem não falamos muito, um colega de trabalho com quem não fazemos mais do que tomar um café juntos, uma pessoa do outro lado do balcão e que vemos a cada quanto.

Mas como encontrar a forma de amar o vizinho chato, que parece ter gosto em bisbilhotar incomodamente sua vida; o colega de trabalho passivo-agressivo, que não passa um dia sem dar uma indireta nem tão indireta assim, ou o estranho que, sem razão alguma, responde com agressividade e arrogância quando tentamos ser educados? Mais fácil desejar-lhes o fogo eterno do que lembrar que são criaturas do mesmo Pai, na mesma jornada de tropeços e erros sem fim, chamada vida.

Grande parte da confusão talvez seja porque pensamos que amar é sentir ternura. Se calhar, a chave está em aprender a amar sem gostar da pessoa.

Certa vez encontrei um grande orador, capaz de cativar plateias até quase a hipnose, tão imersos ficavam todos nas suas palavras. Depois, no decorrer da convivência, a decepção. Ele mastigava de boca aberta.

Terminei o jantar social em silêncio. Ninguém reparou, havia muita gente e a conversa seguiu pela mesa, com os funcionários da empresa que o contratou buscando mais uns minutos de sabedoria.

Mastigar de boca aberta é um ato confortável para quem o pratica (aparentemente), porém desagradável, ou insuportável, para quem com ele convive.

Tempos depois, a parceria com o guru caiu espetacularmente. Uma colega, em encontro casual, menciona que a tal empresa quase foi tomada, vítima da própria boa-fé, alguma ingenuidade e o que só poderíamos chamar de charlatanismo, do outro lado. Houve alguma preocupação por uns anos, mas sobreviveram. Ainda bem.

Não me surpreendeu. Afinal, ele mastigava de boca aberta.

Mastigar de boca fechada é o nível mais básico do amor ao próximo. Algo que se faz por respeito aos seres humanos ao seu redor, ainda que para o mastigador não signifique nada.

Exageros à parte, mostrar ao mundo o alimento sendo processado dentro da sua boca é quase como convidar estranhos a acompanhá-lo durante a visita ao vaso sanitário. É assunto privado (sem trocadilho), pertencente ao reino da intimidade.

Se não se consegue amar o próximo, pelo menos mastigar de boca fechada já é um passinho na direção certa.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova - Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica - AnaMariaLSVilanova@gmail.com

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