O funcionário passa de bloco em bloco, avisando os habitantes.
Primeiro, chama a atenção com um suave “toc-toc” na parede de madeira e, quando tem certeza de que sua presença foi notada, dá a notícia, suavemente:
– A patroa morreu, mas não vão embora. O patrão vai ser bom para vocês.
A patroa em questão é Sua Alteza Real Rainha Elizabeth II e o novo dono é seu filho, antes príncipe, agora Rei Charles III.
Assim, conforme a tradição, o apicultor real deu a notícia às abelhas de Clarence House e do Palácio de Buckingham deste episódio fundamental nas suas vidas. Saibam as abelhas e o mundo que a Rainha Elizabeth morreu.
A transmissão da cerimônia de coroação desta mesma rainha, em 1953, provocou uma corrida às compras. Quem podia comprou um aparelho de televisão e, além da família, ganhou alguns “televizinhos” para partilhar o momento. Já no funeral da rainha, qualquer pessoa com um celular mediano vai poder acompanhar o evento, no mundo todo.
Desde que foi divulgada a notícia, as palavras que mais se ouvem ao descrever a senhora que se foi são “dever” e “serviço”. Aos 21 anos, ela prometeu que dedicaria sua vida a servir seu povo, fosse longa ou curta sua existência, que, afinal, foi bem longa, e o compromisso foi cumprido. Soube se manter relevante e evoluir com os tempos, mantendo a tradição e desempenhando suas obrigações.
Num mundo cada vez mais rápido e em que sucumbir às emoções passou ao status de autenticidade, o exemplo demonstrado por 70 anos a cumprir uma promessa quase choca. Mas é possível ser-se fiel à própria natureza enquanto se busca propósito, algo menos popular – mas infinitamente mais relevante – que a tal felicidade.
Tanto as abelhas quanto a rainha cumpriram seu papel, a função a elas destinada nesta existência. Com certeza, tiveram dias melhores e piores. Mas evidenciam como cumprir um compromisso real, seja em poucos dias ou sete décadas.
Ficou apenas a dúvida sobre o protocolo real, afinal a colmeia já tem uma monarca, a abelha-rainha, que ainda segue em funções. Provavelmente, há uma linha de sucessão paralela, para evitar complicações. Vida longa à rainha.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Egenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com