Um dos pormenores que mais me impressionaram em minha mudança para um novo país foi constatar o impacto que, digamos, uma pequena grande regra de trânsito tem no dia a dia. É a que se refere à faixa de pedestres.
Em teoria, a cada vez que um pedestre decide pôr o pé na faixa para atravessar a rua, o motorista do carro próximo deve parar e dar prioridade ao ser humano. Na prática, no Brasil, salvo algumas cidades que decidiram de fato fazer cumprir a regra, pouco se respeita.
Vivendo em São Paulo, ainda mais, parar o carro nessa circunstância, na maioria das vezes, significa intrincar consideravelmente uma situação já frenética. O trânsito é sempre intenso.
Já em Portugal, vem a constatação de que um carro se imobiliza para permitir a passagem de um único pedestre. Ninguém olhand nem polícia nem ninguém – seja com mais ou menos autoridade. Apenas um carro, um motorista e um pedestre. A primeira vez é memorável, um sentimento de maravilha, pelo respeito a uma norma realmente básica.
Depois vem a segunda parte da experiência: atrás do volante. Passa-se a encontrar a referida faixa, mas, pelo outro lado, ou seja, tendo que dar passagem aos pedestres.
É quando se percebe o impacto que este pequeno gesto tem na forma como se dirige. Até então, os pedestres são dignos de nosso cuidado quando se aproximam dos semáforos; aí, sim, lugar em que se aventuram a cruzar a rua.
Mas, quando se respeita a faixa de pedestres, a qualquer momento o trânsito à sua frente pode parar. Um semáforo logo adiante se vê bem. Já uma faixa, ali no chão, sozinha, tão aplanada, coitada, pode não estar visível, se está um pouco mais à frente. Porém, se alguém resolve cruzar a rua, uma fila de carros para. O nível de atenção ao dirigir sobe barbaramente, e os pedestres, aqueles seres que quase se confundiam com a paisagem, de repente, são objeto de foco total. Eles têm prioridade mesmo!
Viver numa realidade de respeito a todos inclui dois lados. Recebemos o benefício pelo respeito às regras desde que nós também nos conformemos a ela. Entender que essa é a cultura local e nela queremos continuar implica uma mudança em nosso comportamento. E o bonito é que se pode fazer isso em qualquer lugar, bastando decisão.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com