Querida família uberabense, estamos todos bem aqui. Até o momento, ninguém apresenta qualquer sintoma de gripe
Querida família uberabense, estamos todos bem aqui. Até o momento, ninguém apresenta qualquer sintoma de gripe. Estamos atentos porque, como sabem, temos uma pessoa no grupo de risco (bronquite), assim não medimos esforços para protegê-la, mesmo que isso signifique deixar de fazer o que tanto gostamos: ver-nos, visitar-nos.
Mas tenho pensado muito em como é que a situação chegou a este ponto. Quando começaram as notícias sobre este novo vírus, ninguém aqui acreditava que o problema nos afetaria de nenhuma forma relevante. Era só mais uma epidemia do outro lado do mundo, como temos a cada dez anos. E, além do mais, nem era tão letal assim. Menos do que a gripe comum, menos do que outras epidemias e com um foco bem dirigido a pessoas mais idosas, ou com problemas respiratórios. Não é tão difícil proteger o vovô, não? Se alguém pegar, apenas não visite o vovô, e está tudo bem.
Algo parecia errado nisso tudo. Se era “apenas uma gripe”, por que recebíamos vídeos de pessoas caindo nas ruas, na China? Isso não acontece com a gripe comum. E por que começaram a construir hospitais em duas semanas? E por que havia tanta gente internada, se não era grave? Então, chegou à Itália. E o que vimos lá foi, num dia, meia dúzia de casos; dia seguinte, o país tomado. “Fecharam” a Itália! Como foi possível?
Esse é o problema desse vírus e é por isso que não é “só uma gripe”. Ele se espalha tão rápido que, mesmo que os casos sérios sejam poucos, são muitos, mas muitos, mas muitos mais do que qualquer sistema de saúde consegue atender. A este ponto já está claro que não há sistema de saúde no mundo que suporte os 20% de pacientes que vão necessitar de tratamento intensivo, e respiradores, e muitos profissionais ao seu lado. Isso sem contar com qualquer outra pessoa com um problema grave de saúde que necessite de atendimento. As pessoas não vão deixar de ter câncer, insuficiência renal, ou de quebrar uma perna porque não há lugar no hospital.
Aqui, em Portugal, primeiro fecharam universidades e escolas públicas; depois, todas as outras. Agora, o país todo está funcionando a meio gás. A recomendação (por enquanto é recomendação) é só sair de casa quem tiver que sair mesmo, para se abastecer ou trabalhar. Quem pode trabalhar remotamente, faça-o. Feiras? Eventos? Congressos? Reuniões? Barzinho? Tudo cancelado. Qualquer aglomeração de pessoas é para ser evitada. Restaurantes diminuíram a capacidade, de forma a afastar as mesas umas das outras. Fazem-se filas para entrar no supermercado, de forma a evitar muita gente lá dentro. E, na fila, observamos 1,5m de distância uns dos outros. Álcool-gel e máscaras? Já se esgotaram há muito. E, por alguma razão, também o papel higiênico (quase) acabou. Agora, quando se encontra, a quantidade é limitada por cliente. Repórteres envolvem microfone em plástico. Está abolido o aperto de mão. A principal recomendação é lavar as mãos, o que todos têm feito obsessivamente, ainda bem.
E o que fazemos o dia todo em casa? Bem, nos equilibramos entre nos mantermos informados sobre a situação e abstrairmos um pouco. Chega um ponto em que é preciso desligar um pouco, sem descuidar. É delicado. Sabemos que o próximo passo é o isolamento passar de voluntário a imposto, mas, se tiver que vir, que venha.
O ponto é: essas medidas vão acontecer, cedo ou tarde, de forma organizada ou caótica, voluntária ou obrigatoriamente. Assim, vejam esta carta como um diário do que serão os próximos dias/semanas por aí. Vamos passar por isso. Assim, ou nos preparamos, ou sofremos (mais). Ou nos antecipamos, ou pioramos, e muito, a situação. Sairemos dessa, com certeza. Estamos isolados socialmente, mas unidos como nunca.