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Em Tempo Real

Ana Salvador
Publicado em 13/03/2024 às 18:48
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Após a simples cerimônia de casamento no juiz de Paz local, o casal recebe os cumprimentos dos poucos amigos. São os duros tempos do faroeste, muito retratados no cinema americano.

Logo a seguir, o noivo renuncia à sua posição de xerife local, antes de levar sua amada em lua de mel, num pequeno veículo puxado por cavalos. Mas um telegrama vem complicar toda a situação.

Um criminoso condenado anos antes, afinal, está livre e deve chegar à cidade hoje, no trem do meio-dia. Está claro que ele vem confrontar o agora recém-casado ex-xerife. Assim se estabelece o conflito no ainda poderoso filme “Matar ou Morrer” (High Noon, 1952).

Produzido na época de ouro do cinema, a história se resume aos eventos ocorridos no curto espaço de tempo do próprio filme. Por uma hora e meia, acompanha-se o personagem Will Kane (Gary Cooper) em sua busca por ajuda, seja de quem for.

Mas, desde que decide ficar na cidade, Kane toma um curso avançado e expresso em natureza humana, em suas mais diversas vertentes. A noiva (Grace Kelly), inconformada, dá-lhe um ultimado, o que só aumenta sua angústia e, a partir daí, Kane encontra a covardia embrulhada nos mais diversos invólucros.

Seja no bar, onde bêbados se reúnem para apostar em sua morte, ou na igreja, que só existe porque ele “limpou” a cidade, até seu melhor amigo, seu adjunto, cidadãos de bem e outros nem tanto, de todas as idades e tamanhos.

Quando, finalmente, o trem apita, avisando que não há mais tempo, tudo indica que a história vai acabar mal. E, de fato, faltando dois minutos para terminar o filme, a coisa ainda pode ir para qualquer lado.

Assim foi a era de ouro. Filmes enxutos e fortes. Várias obras daqueles anos refletem a angústia sofrida por artistas, escritores, diretores e outros, quando eram arrastados à frente de comissões para serem questionados por suas ideias e viam os amigos minguarem, num striptease social implacável.

Em tempos de cancelamento, em que justiceiros coletivos têm paroxismos de virtude atrás de teclados, sempre há o refúgio das artes para não deixar o mundo se esquecer da miséria em que caíram suas almas.

Mais tarde, essas obras ficam como lembrança, quando vier o inevitável encontro com as consequências. Meio-dia sempre chega.

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