Cada geração tem seus pontos altos e baixos. Quem viveu os anos 80 teve sorte, especialmente na cultura. Foi quando se formou o mito “Guerra nas Estrelas”, que hoje forma parte do inconsciente coletivo e segue gerando histórias.
Viajamos no tempo em “De Volta para o Futuro”. E apareceu “ET, o Extraterrestre”. Um herói improvável, que à primeira vista parecia mais motivo de asco do que de simpatia, levou milhões às salas de cinema, apesar do aspecto meio tosco, repelente até. ET era, ao mesmo tempo, muito feio e tão adorável, que, no meio do filme, a plateia já estava totalmente rendida e torcendo pelo sucesso do serzinho.
Muitos anos mais tarde, o diretor desse filme, então já consagrado pelos muitos êxitos, reflete sobre essa obra: Esse não é um filme sobre um extraterrestre, mas uma forma de lidar com o divórcio dos pais. Revendo o filme, até hoje um tempo muito bem passado, fica claro. Os efeitos especiais, à época revolucionários, com bicicletas voando contra o Sol e contra a Lua, são adornos. O tema central é a psique do menino Elliot, que encontra o apoio que lhe falta em casa no amigo alienígena. Tudo feito lindamente.
Sobre a falta paterna, também o filme “Karate Kid” mostrou sua visão. No caso, o pai do garoto Daniel LaRusso está ausente porque faleceu, porém Daniel encontra o sábio Sr. Miyagi. A história acontece no mundo das artes marciais, mas o foco é a relação entre os dois e a forma como o jovem Daniel encontra ferramentas para crescer, rumo à vida adulta.
Clareza sobre o tema real da história está na raiz da sinceridade com que ela é contada. São as histórias com alma. Clareza essa que não faltou à feliz sequência dessa história, a série “Cobra Kai” (Netflix), já na quarta temporada. Ambientada no universo do filme original, a série mostra o que aconteceu com os personagens originais, porém, enfoca no rival de Daniel, Johnny Lawrence, e sua saga para reavivar o método com que aprendeu a lutar. Entretanto, assim como o filme, não é uma série sobre “karate”. É uma história sobre pais e filhos, especialmente sobre a falta que pais fazem para rapazes. Muito bem contada, sem concessões e sem soluções fáceis, a série serve aos fãs sem agredir sua inteligência. Diversão garantida e trilha sonora fantástica, mais anos 80, impossível.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com