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Muito em comum

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 01/06/2021 às 07:09Atualizado em 19/12/2022 às 03:23
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Fazer auditorias é um trabalho, ao mesmo tempo, recompensador e ingrato. Por um lado, uma avaliação bem feita leva a recomendações úteis que fazem a organização avançar de forma mais eficiente, uma vez que direciona seus recursos da melhor forma possível. Uma beleza de se ver.

Por outro lado, o auditor, depois de passar algum tempo na companhia de trabalhadores de vários níveis, do chefão ao peão, emite um relatório que, com certeza, vai chatear parte do público. É a vida. Quem não vive bem com a ideia de ser “odiado” é melhor não investir nessa carreira.

Parte da etiqueta não falada da auditoria prevê um jantar social pelo meio dos trabalhos. É uma forma de se estabelecerem laços e ajudar ambos os lados a se conhecerem melhor. Comunicação é fundamental neste processo; assim, jantemos!

Que surpresa foi, em um desses jantares na Turquia, constatar que me sentia quase em casa. Um país tão longe, com costumes tão diferentes, da comida à religião, da língua às tradições, mas com um povo tão acolhedor.

Sem falar uma palavra na língua local, apenas acompanhava a dinâmica do diálogo pela mesa e, quando todos começaram a rir quase descontroladamente, confirmou-se a máxima de que o riso é contagioso. Impossível não acompanhar, tamanha a energia. Só depois um dos comensais, bilíngue, esclarecia o tema da história que ia sendo contada com tanta eloquência: uma carona com um amigo que tinha um carro em muito mau estado. Nada espetacular. Uma crônica comum, que amigos contam quando se sentam para comer e conviver. Tão a cara do Brasil.

Alguns poucos dias depois, o trabalho chega ao final. Relatório apresentado, pessoas infelizes. Nem todas, mas ainda assim.

Fica a lição. Queremos ser amados, ou fazer o bem? Às vezes é possível. Mas, e quando não é o caso? Quando temos que tomar decisões, ainda que sejam para o benefício do interlocutor, sabemos que serão impopulares, o que fazer?

Com alguma frequência, caímos na tentação de evitar ao máximo o quadro, muitas vezes adiando a ação até o possível, ou além. Criamos circunstâncias falsas e vivemos em tensão, em vez de enfrentar e passar aos inevitáveis próximos passos.

Vale a pena investir em comunicação e, se a mensagem é dura, a maneira de passá-la pode ser muito humanizada com algum planejamento.

E, mais que tudo, pensar no objetivo final, no bem que virá no longo prazo, ajuda a manter o foco. Olhando para os trabalhadores turcos, é fácil sentir que são quase irmãos e pensar que, ainda que hoje não terminem o dia lá muito satisfeitos, daqui a anos as boas ações deste dia ainda vão se fazer sentir.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

AnaMariaLSVilanova@gmail.com

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