A confeiteira queria convencer a cidade toda de que seu bolo era o mais incrivelmente delicioso do mundo. Assim, desenvolveu uma engenhosa experiência.
Estabeleceu na sua porta uma banca de amostras, na qual anotava quantas pessoas haviam provado a iguaria, e, depois, respondiam a uma pergunta: concordavam que aquele era “o bolo mais delicioso do mundo”?
Para estabelecer uma comparação e, desse modo, ter a prova final da resposta correta, pôs outra banca uma rua abaixo, com um bolinho muito básico e sem graça, sendo tudo o mais exatamente igual: amostra e pergunta.
A motivação era grande, e passaram vinte mil pessoas em cada banca. O importante era conseguir os resultados para mostrar ao público que devia comprar seu bolo especial. Mas... decepção.
A verdade é que a maioria das pessoas não achou nenhum dos bolos grande coisa. Não que fossem maus, apenas eram “meh”.
Versada nas artes numéricas, a pasteleira não desistiu. Números são exatos, porém quem os manuseia, não. É questão de encontrar o foco. Dessa forma, viu, com exatidão, que, na banca dos bolos “bons”, das 20.000 pessoas, 190 concordaram com a sua deliciosidade superior. Na banca dos bolos “maus”, apenas dez em 20.000 acharam a mesma coisa.
Problema resolvid a confeiteira desconsiderou todas as pessoas que não acharam nada e comparou apenas os 200 respondentes (190+10) que se manifestaram a favor de um ou de outro. No dia seguinte, a placa: “Este ‘bolo especial’ é 95% superior!”
Mentira não era. Apenas estavam divulgando uma informação parcial, de uma comparação muito particular de dois números. Se quisessem, realmente, ser claros na informação, deveriam ter dito que nenhum dos bolos era grande coisa, porém que esperavam que gostassem do seu produto. Colocariam na praça e deixariam que os clientes decidissem como achassem melhor.
O pior é que alguns clientes desconfiaram dos resultados e perguntaram por mais detalhes. Afinal, provaram os bolos, até repetiram, entretanto percebiam que não fazia muito sentido. Os tais 95% davam a impressão de que, das 20.000 pessoas que provaram o bolo especial, 19.000 o tinham achado a última maravilha do planeta e, bem, não era o caso.
Apanhada no truque, a pasteleira, sem perder a postura, soltou um “você é um bolofóbico”, e foi assar mais bolos.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com