ARTICULISTAS

O Crepúsculo

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 22/06/2021 às 19:57Atualizado em 18/12/2022 às 14:51
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Respondendo ao comando “ação”, a famosa atriz desce as escadas, conforme indicação do diretor. Entre todos ali, apenas ela não percebe que não se trata da filmagem de uma cena, mas de um artifício. O auge da sua carreira se foi e, agora, a multidão presente é composta, em sua maioria, de policiais e repórteres. Estão respondendo a uma ocorrência, uma vez que ela, tendo cometido um crime, está sendo conduzida à delegacia.

Esta é a apoteótica conclusão do filme “Crepúsculo dos Deuses” (Sunset Blvd.), um clássico de 1950 cujo final conserva sua força e brilho, tantos anos depois. Essa imagem vem à cabeça sempre que vejo algum poderoso de outrora se debatendo, rumo à sua extinção.

Em marketing, estudamos o infame caso do investidor que, buscando preservar sua riqueza para os descendentes, apostou tudo em um negócio infalível: os bondes. Raciocinando que a necessidade por eles somente aumentaria, enterrou ali todas as economias, condenando os herdeiros a buscar outra forma de rendimento, já que aquela tecnologia foi suplantada.

O equívoco do infeliz investidor foi não ter sido capaz de identificar a verdadeira necessidade que os bondes atendiam. Tivesse investido em transporte, não necessariamente bondes, encontraria o veio que procurava. Teria acompanhado a evolução para motores a explosão e hoje, quem sabe, participaria da corrida espacial. No futuro, teletransporte?

Assim também a internet veio virar o mundo de cabeça para baixo e vísceras para fora. Quantas profissões dependiam da exclusividade do acesso a determinada informação? Afinal, descobrimos, muitas.

No mundo de hoje em que, depois de rápida consulta a bases de dados mundiais, somos todos semiperitos em qualquer assunto, vemos o crepúsculo de muitos poderosos, inconformados com a audácia dos ingratos aqui embaixo, que insistem em saltar do bonde.

Correntemente vemos o feio estertor de gigantes, minorados a cada dia, jogando os últimos lances, tentando sobreviver pela ameaça, já que não têm tido êxito pela necessidade, saudosismo ou respeito.

Descem as escadas, vivendo uma cena fictícia, no seu ato final.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova - Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica - AnaMariaLSVilanova@gmail.com

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