Em 1996, o Brasil concorria ao Oscar de melhor filme estrangeiro, com “O Quatrilho”. Como sempre, o horário da longa cerimônia não era amigável e esse prêmio, especificamente, só aparecia lá pelo meio da madrugada. Eram tempos pré-internet. Para os que não tinham conseguido assistir tudo ao vivo, a primeira opção eram os jornais da TV, na manhã seguinte. Mas, saindo de casa muito cedo, ainda não havia nenhum.
Segunda opção, ouvir as notícias no rádio, a caminho do trabalho, aí, sim, sempre havia alguém falando qualquer coisa. Princípio de decepção. Mais do que ouvir a notícia de que o Brasil não tinha ganhado, era possível inferir, pela falta de comentários. Nada, nem uma palavra. Chegando ao trabalho, a confirmação. Um colega, mais noctívago, selou o desapontament quem ganhou foi um holandês que nem vimos, de raiva.
Restou o gosto de desfrutar do resto dos premiados da noite. Naquele ano, o Oscar de melhor filme foi para a obra “Coração Valente”, do inesperado ator convertido a diretor Mel Gibson. Concorria com Apollo 13: do Desastre ao Triunfo; Babe, o Porquinho Atrapalhado; O Carteiro e o Poeta e Razão e Sensibilidade. Ainda hoje, todos esses filmes seguem sendo reprisados e continuam a desdobrar suas histórias engraçadas, românticas, ou dramáticas, com alto grau de envolvimento.
Agora, na segunda década no século 21, a lista de filmes indicados ao Oscar é bastante mais extensa, mas quem os viu? Se é que ainda são filmes, alguns mais parecem tratados político-sociais. A impressão é de que cada estúdio tem uma lista de requisitos obrigatórios e vai aprovando os filmes conforme esse rol. Mudanças climáticas? Sim! (In)justiça social? Obrigatório. Elenco diversificado? Depende. Pode, sim, desde que sejam as diversificações “corretas”. E por aí vai.
Ao fim, vez de transmitir experiências e emoções universais que arrebatam multidões, fica-se por mensagens de curta duração, sem profundidade, poesia ou graça. Depois não entendem por que a audiência da cerimônia caiu espetacularmente nos últimos anos. Não fosse o soco bem dado, em pleno palco, no comediante que tentava levantar o ânimo (fez piada com a esposa de um colega ator, que não achou graça nenhuma), é capaz que não houvesse nada para ficar na memória da edição 2022. A não ser que isso também tenha sido encenado, a esta altura, difícil dizer o que é pior.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica AnaMariaLSVilanova@gmail.com