Chocada! Constatei que certo evento relevante que, pensava eu, havia ocorrido há 2 ou 3 meses, na verdade aconteceu há mais de um ano. Não foi em janeiro de 2021, mas naquele mesmo mês em 2020! Comento o insólito e várias pessoas me dizem o mesmo. O ano passado não passou.
Os dias foram longuíssimos, o ano se foi voando. Sem os ciclos naturais da vida, com as jornadas no trabalho e os fins de semana, os aniversários, os feriados grandes e pequenos, as festas religiosas, a vida ficou plana.
De importante, um tema, e um tema apenas. Ficamos especialistas em assuntos científicos, e outros nem tanto. Lemos gráficos de casos confirmados, hospitalizações e óbitos, vimos amigos e parentes adoecerem e nos preocupamos. As mortes, choramos.
Lidamos com o vírus e as consequências, temporárias e permanentes, algumas ainda não mensuradas. Quem sabe o impacto nas crianças? Em 20 anos, talvez, saibamos.
É-nos próprio buscar uma razão para tudo. Alguns de nós dizemos mesmo “tudo acontece por um motivo”. Se isso é verdade, realmente, escapa-me à compreensão. Apenas pode-se afirmar que seguiremos buscando e, muitos, cremos que sabemos.
Assim, uma amiga me diz: “Isso tudo tem que melhorar logo. Com todas as medidas que estamos tomando, as máscaras, o confinamento, as vacinas, o fechamento de países inteiros. Isso tem que melhorar!”
Sinto um frio na espinha. Pois isso é um desejo que, por força do desespero, rotulamos como verdade.
Não há garantia nenhuma de que essas medidas tenham êxito. Podem funcionar, ou não. Porém, se dizemos que elas “têm que dar resultado”, nos colocamos em posição enviesada, olhamos para os dados que convêm, passamos por alto aqueles menos simpáticos, urgente é o nosso desejo de sair e viver.
E o pior é que, se cremos que as tais medidas funcionam “porque sim”, qualquer dissidência passa a ser pecado, um atentado ao nosso sistema de crenças básico, uma ofensa pessoal. Além de não resolver o problema, cria um ambiente de culpas e repressão que nos afasta da solução.
Um perigo.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova - Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica - AnaMariaLSVilanova@gmail.com