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Prova Insólita

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 14/10/2022 às 19:08Atualizado em 16/12/2022 às 01:14
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Parece uma aula de natação normal, na verdade, um exame. As crianças enfileiradas à beira da piscina aguardam ordem para pular na água. Quando chega a hora, atiram-se todas. Fazem exercícios diferentes, sob o comando do instrutor. Parecem estar até se divertindo, e estão mesmo.

Poderia ser uma prova em qualquer lugar do mundo, mas esta tem uma particularidade: todas as crianças estão vestidas. Usam não apenas trajes de banho, maiôs e calções, mas, por cima, vestem camisetas, casacos, calças compridas e até sapatos! O que se passa?!

Estamos na Holanda. A cena descrita é normal naquele país, que é tão organizado e que tomou grande parte de seu território ao mar. Há canais por todos os lados e é fácil cair em qualquer um deles, por desconhecimento ou distração. Essa é uma advertência que qualquer estrangeiro recebe, já ao chegar. Aquele caminho pode parecer grama, mas é água. Tente seguir por ali e vai sair molhado.

Como gerir o risco de afogamento de crianças num país assim? Ensinando-as todas a nadar, e a nadar muito bem. Não basta saber se virar ao cair na água, é necessário saber fazê-lo completamente vestido, o pior cenário possível.

E o exame é obrigatório, não há desculpas, e ninguém reclama. A que nível de organização um país tem que chegar para cuidar de um problema com esse nível de minuciosidade? Não há analfabetos; ninguém passa fome; o índice de criminalidade é baixíssimo; os problemas mais básicos, todos resolvidos. Cada cidadão tem claro o seu papel, arca com suas responsabilidades e deveres, para, em retorno, usufruir dos seus direitos.

É a análise que faço sempre que alguém dá o exemplo da Holanda como país em que as “drogas são liberadas” e “não há problemas”.

O holandês médio cresce nesse ambiente em que, sob certas condições, há uma certa liberdade para experimentar drogas. Mas é o mesmo cidadão que, todo santo dia, cumpre suas obrigações com a lei, com seus pares e com a sociedade. E não são poucas.

A pessoa acorda e tem possibilidades mil. O que vou fazer com o dia que tenho à frente? Vou fumar qualquer coisa, ficar ali morgando no sofá? Até poderia, mas tenho que levar o Júnior à aula de natação. Fui!

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

AnaMariaLSVilanova@gmail.com

 

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