Fila no caixa do supermercado. Obedecendo ao distanciamento ora requerido, coloco-me atrás de uma jovem que tem suas compras registradas. É uma moça de aparência saudável, compleição sólida, nem gorda nem magra. Veste-se com roupas práticas, que favorecem o movimento. As compras são numerosas. Ou tem família muito grande, ou a compra é profissional.
O que chama a atenção é a dinâmica da operação. A funcionária no caixa passa cada item. Quando alguns se acumulam, abre um saco de plástico para guardar aquele grupo. Também abre um segundo saco, que o plástico é muito fino e há risco de rompimento. Vai acumulando as compras duplamente ensacadas na zona de “já registrados”, empurrando-as, a fim de criar espaço para mais artigos. Ou seja, faz tudo.
E a compradora? Deixa-se estar quieta, encostada ao móvel, fazendo e olhando para o nada. Tendo na mão uma bolsinha onde deve estar o dinheiro, apenas espera, inútil, enquanto a caixa acumula todas as tarefas, alternando entre registrar, abrir sacos, acondicionar os volumes e organizar o espaço à medida que avança.
Poderia ser uma condição de incapacidade física, porém não foi o caso. Ao final do processo, a compradora pagou e prontamente apanhou tudo, distribuindo o peso entre as duas mãos. Saúde, força e coordenação motora ela tem. Poderia ter ajudado durante toda a operação, apenas escolheu não o fazer.
Por quê? Talvez nem lhe tenha ocorrido outra forma de agir. É possível. O fato é que aquela tarefa poderia ter sido concluída de maneira mais rápida e eficiente com uma divisão mais racional entre as duas pessoas envolvidas. Uma registrasse, outra abrisse os sacos, alternando-se na distribuição. A fila andaria mais rápido; o supermercado poderia vender mais; seria poupado o tempo de todos os clientes, o que os liberaria para outras atividades; a produtividade geral aumentaria. Um grãozinho de areia como esse, replicado milhares de vezes, faria diferença para o país.
Fico pensando naquelas pessoas que se queixam do estado geral das coisas, da vida difícil, dizendo que tudo é penoso e ninguém ajuda. Pois bem, fazemos quando ajudamos a nós mesmos, dando o nosso melhor em todas as oportunidades que se nos apresentem. Só assim mudamos a nossa realidade e provocamos a mudança geral que queremos ver.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com