A coisa já não tinha começado muito bem. Problemas na organização, excessivamente ativista e pouco prática, já indicavam a direção equivocada. Camas de papelão, menu vegetariano para atletas de altíssimo desempenho, delegações tendo seus equipamentos roubados; as notícias pré-evento não animavam. Então, veio a abertura dos Jogos Olímpicos de Paris.
O sarrafo é alto. Desde a edição em Moscou, em 1980, a abertura dos Jogos Olímpicos demanda tudo que um espetáculo de escala mundial pode oferecer. Linha narrativa empolgante, excelência na execução, grandiosidade e muita, muita emoção. O público comparece e pede que seja encantado.
Assim, o ursinho russo Misha rindo (e depois chorando no encerramento), em 1980; depois o arqueiro que acendeu a pira olímpica com uma flecha, em Barcelona, em 1992; a Rainha da Inglaterra chegando de helicóptero ao Estádio Olímpico, em Londres, em 2012; até nossa gloriosa Gisele Bündchen cruzando a passarela, no Rio, em 2016, são imagens que ficam no imaginário, para a posteridade.
Difícil pensar num país com mais história para contar do que a França. Literalmente, milhares de referências e marcos fundamentais da humanidade para referir num evento desse tipo. A ideia é mostrar o que há de melhor no país, enquanto ele dá as boas-vindas aos convidados, elite do esporte mundial.
Mas, cansaço dos cansaços humanos, cada geração que chega imagina estar resolvendo todos os problemas do mundo chocando os mais velhos, indo contra “tudo isso que está aí”, incluindo a religião e a história.
Acham mesmo que estão sendo superoriginais e ousados ao perverter símbolos sagrados. São como artistas de stand up que, sem conseguir arrancar risos da plateia, começam a soltar palavrões cada vez mais explícitos. Óbvio que conseguem reações, mais por nervos que qualquer outra coisa.
Assim, foram exibidas imagens como a “recriação” profana da Santa Ceia, a decapitada e difamada Rainha Marie Antoinette, e performances mais adequadas a clubes adultos, para horror de milhões.
Sem beleza, sem graça, sem educação, sem respeito e sem sentido. Depois pediram desculpas, sem se desculpar, disseram que não era bem isso, era tudo pela inclusividade e tolerância. Sei.
Boa sorte aos nossos atletas. Que os jogos terminem melhor do que começaram.