Gosto de fazer pão de queijo. Além de ser inacreditavelmente perfeito, me lembra casa, família e carinho. Faço pão de queijo para os amigos, levo para o trabalho. Foi assim que um colega, espanhol, se encantou com esta delícia tão brasileira e soltou um: “esto tiene que ser muy bueno con un moscatel”. Nunca me ocorreria emparelhar pão de queijo com vinho, achei graça na sugestão. E pensei na riqueza que viajar traz. Não é o mesmo ouvir falar, ou ler, sobre outras culturas, pessoas e países. Sempre nos enriquece a experiência alheia, é claro. Mas ver uma pessoa reagir à nossa influência é uma emoção à parte. Onde antes havia uma moda brasileira e uma “manera española”, sai uma terceira forma, que a nenhum de nós ocorreria se não nos tivéssemos cruzado naquele dia, daquela forma.
Um mês de férias no Brasil e quase 22 horas de viagem para voltar a casa, entre carro e avião. Mudam o clima, a paisagem, as pessoas, a fala, e o estado de espírito. E nós? Mudamos e não mudamos.
Ver Uberaba depois de algum tempo fora é sempre um misto de novidade e familiaridade. A cidade está lá, com seus cantos preferidos e confortavelmente conhecidos. Mas sempre há algo novo, de que não tínhamos notícia. A rua que mudou de direção, o novo sistema de transporte, o shopping que não existia, a ampliação da faculdade em que me formei, o policiamento ao final da tarde na praça da nossa infância, mais umas quantas farmácias, um lindo parque novo, recém-inaugurado. Nesse parque, fui praticar minha necessária caminhada nórdica, que vem a ser caminhar com bastões, aplicando uma certa técnica. Não sei se alguém já havia caminhado com bastões ali, mas agora ele já foi “batizado”. E, de novo, aquela sensação de influenciar e ser influenciada de uma maneira única pelo ambiente, agora trazendo um “estrangeirismo” à minha terra natal, em vez de levar “brasileirismo” a outras paragens.
O parque é lindo e, caso não saibam, ideal para essa prática desportiva. Até a próxima, querida cidade. Espero, ansiosa, retornar aí para reconhecer e redescobrir o velho e o novo.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova é engenheira civil, cinéfila, ailurófila, faz caminhada nórdica à beira-mar e vive perto de Lisboa.