Foram muito populares os livros de coletâneas da Biblioteca de Seleções, sobre os mais diversos temas. Havia para todos os gostos, de jardinagem a desastres famosos, e um, particularmente, ficou na memória: “As Melhores Histórias Reais de Crime, Mistério e Suspense”.
As histórias de fantasmas eram as que mais prendiam a atenção; quase se absorvia tudo sem respirar, tal a ansiedade. Especialmente uma, lida num domingo de manhã.
Era sobre uma família que se muda para uma casa e começa a ouvir e sentir coisas sobrenaturais: sons de passos que entram e saem, camas que tremem, portas que fecham sem terem sido abertas. E a família tentando levar tudo na esportiva, a casa era ótima, boa vizinhança, as crianças felizes na escola, vamos fazer um esforço, acabamos de mudar.
A memória inesquecível dessa história se deu mais pelo fato de, naquela manhã de domingo dedicada à sua apreciação, haver um gato na casa da leitora. Que, como muitos gatos, gostava de brincar. E, como todos os gatos, sabia ser sorrateiro, quando queria.
Assim, o que acontece quando, a meio da narrativa, justo quando a imaginação está no auge da construção de cenários fantasmagóricos, o gato mais silencioso do mundo entra na sala e resolve que é hora de brincar de pega-pega com a sua cabeça?
Difícil saber quem pulou mais rápid a leitora, o livro ou o gato. Cada qual para um lado; o livro, o primeiro a tocar uma superfície firme – a saber, o teto.
O gato, traumatizado para a vida, foi finalmente vislumbrado em meio a uma névoa mental confusa, quando o cérebro, finalmente, conseguiu decodificar a situação. Já estava na porta de saída do local, correndo como se sua vida dependesse disso.
E a leitora? Espantada com o próprio grito e, finalmente, compreendendo a situação, preocupada com o gato. Que precisava de algum espaço, coitadinho, que a brincadeira correu mesmo muito mal. Melhor baixar os batimentos cardíacos gerais antes de qualquer aproximação.
Ficou o aprendizad quem vive com gatos nunca fica sem emoção. Além de todo o carinho que oferecem (mente quem diz que não), dão cor à vida como só eles sabem fazer.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Egenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica
AnaMariaLSVilanova@gmail.com