Voltar de uma viagem é sempre um alívio. Abrir a porta, respirar o cheiro conhecido, sentir o silêncio que só o lar tem. Naquele primeiro momento, a casa parece o melhor lugar do mundo. Mas basta o olhar pousar com mais atenção sobre os cantos, as paredes, os móveis de sempre… e surge o pensamento incômodo: minha casa está parada no tempo.
É um estalo. Um chamado. Uma vontade de mudar tudo. E não se trata apenas de estética — é uma necessidade interior que se projeta nos objetos, nos tecidos, nas luzes e cores. Como se reorganizar o espaço fosse também uma forma de reorganizar a alma.
Mas toda mudança pede calma. Nem sempre é possível — nem financeiramente nem emocionalmente — trocar tudo de uma vez. Conheço amigas que renovam a decoração da casa ano após ano. Já outras, como eu, fazem mudanças aos poucos. Um objeto novo aqui, uma almofada colorida ali, pintar uma parede, trocar uma luminária, vaso de flores iluminando o ambiente. Pequenos gestos que fazem uma sala congelada no tempo voltar a respirar.
Ani e eu fazíamos muito isso. Adorávamos mexer na casa — arrastar móveis, mudar quadros de lugar, experimentar cores. Era mais do que distração: era terapia. Cada mudança traz um sopro de vida. Era como se o lar nos acompanhasse no processo de ser e estar no mundo. Redesenhar novos espaços em casa por mais simples nos estimula e desafia. Cada canto reinventado desperta ideias, acolhe mudanças e renova a alma do lar.
Mas é preciso lembrar: nem todos vivem esse impulso da mesma forma. Às vezes, o outro prefere o conforto da repetição. Gosta de andar no escuro e saber onde está tudo — seus livros, seus objetos, suas manias. Mudar isso pode ser invasivo. Pode gerar confusão. É preciso sensibilidade para não transformar a liberdade criativa em desorganização alheia.
Agora, quando há sintonia, tudo flui. Um companheiro com mente parecida se encanta com as mudanças, participa, se anima. Juntos, tiram a rigidez do inconsciente, criam leveza, transformam o espaço numa extensão viva do que sentem.
Renovar a casa não é luxo. É saúde. É energia. É dar permissão ao novo. É tirar um pouco do passado de cena e deixar a modernidade entrar — sem medo de ir aos poucos, respeitando o tempo do lugar e das pessoas que ali vivem.
Porque, no fundo, mudar a casa é continuar a viagem. Só que, desta vez, sem sair do lugar. Vamos nos tornar cocriadores do nosso lar? Mexer, mudar, reinventar... até sentir a vida pulsar em cada canto e acolhimento do lar?
Dois beijos...