Cantores, poetas, professores povoam nossa memória... tias, amigos, primos, que foram grandes presenças em nossas vidas. Os anos passam e eles permanecem vivos, fortes, são verdadeiros mitos! Amigos de infância e da adolescência nos marcaram de uma forma inolvidável, fora do padrão estabelecido. Espíritos transgressores!...
Lembramo-nos de uma época em que fazíamos álbuns de nossos ídolos, astros e artistas de Hollywood. Eram fotos de difícil acesso, disputávamos qual era o mais bonito.
Como o cinema nos influenciava! As roupas... Passamos a mascar chicletes, outros a fumar. Queríamos ser como eles! Misteriosos! Lindos e transgressores!...
Os álbuns bem feitos, simetricamente, foto por foto. Anos e anos, idolatrando aquelas adoráveis criaturas que não podíamos alcançar. Eram astros e estrelas. Nunca estariam habitando a
Terra. E um dia, fora da realidade, queimamos todos. Que crime! Imperdoável!
Hoje, a informação chega rápido! Essa vida moderna é muito engraçada! Quando vemos um artista pela primeira vez, vamos direto ao Google ou ao YouTube, e ali tem tudo! Ele está mais do que descoberto! Mais consagrado que nunca! Acaba o segredo. É como um banho de água fria no inverno. O sonho termina e acordamos. Estrelas ou astros, mitos ou divas, são seres vivos como todos nós, simples mortais.
Mas, voltando aos espíritos transgressores, lembramo-nos de duas tias que marcaram nossas vidas. Uma pelo intelecto, outra pela beleza e elegância.
Era de arrasar! Aonde chegava, a festa parava. Só faltavam jogar o tapete vermelho para tia Maura Bittencourt Araujo. Na pequena cidade de Araguari e Triângulo Mineiro, ela ditava a moda.
Uma diva de Hollywood que tinha pulado do nosso álbum de artistas! Pele alva, cabelos dourados, corpo bem feito, presença impreterível na "badalação” dos anos dourados, foi a mais elegante por 10 anos. Não foi de graça que ela conquistou essa faixa, fazia alta-costura, transgressora, estilista de si própria. Tia Maura vestia uma ”echarpe” como ninguém!! Uma classe que só ela tinha! Desfilava pelos salões. Em Araguari, gostava de nos levar às festas. Quando nós chegávamos aos lugares, as pessoas falavam alt "Vem, Maura, passa por aqui".
Abrir o closet de tia Maura era viajar no mundo da moda! Foi um ícone!
Outra criatura adorável foi tia Iná de Souza Sarkis. Transgressora!... Mulher incansável, com cabelos curtíssimos, inspirada no movimento artístico do cinema francês, Nouvelle vague, roupas ousadas e uma cabeça brilhante. Ela desfilou pelas bibliotecas, pelos teatros, pelas letras como ninguém na época ousou fazer. Presente nas rodas que eram frequentadas só por homens e intelectuais. Brilhou! Tinha personalidade, " bom papo" e sabia se impor e se respeitar.
Ser transgressora é quase sinônimo de ser criativa, corajosa. Porque transgressão é sinônimo de inovação.
Uma transgressão que achamos linda e que pode ser vista a olho nu é caminhar pelas ruas de Uberaba, assistir à TV e ver todos aqueles meninos que até pouco tempo tinham a cabeça raspada, todas as meninas que viviam presas às químicas e alisamentos, transgredindo com os seus cabelos crespos, enormes, gigantes. Cada um se expressando de uma maneira.
Os transgressores nos impressionam pela coragem, audácia, pelo simples desejo de querer que a vida seja além.
Homenageamos nossas tias transgressoras, que questionaram o status e as regras e "flecharam” o nosso coração!...
Dois beijos...
Ani e Iná
aninauberaba@gmail.com
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