ARTICULISTAS

Amar... É deixar ir

Anina
Publicado em 12/08/2025 às 18:23
Compartilhar

A vida é um jogo. Ou ganhamos, ou nos frustramos quando apostamos demais. Você olha para seu filho e começa a ajudar, controlando, sugerindo, interferindo na jornada dele. Sem perceber, vai se esquecendo da sua própria. Nós nos apegamos mais do que o necessário. Apegamos tanto que deixamos de viver. Vamos nos descuidando, depositamos todo o nosso salário nos estudos dele, acreditando que isso é amor. Até ouvir: “Vou ser feliz quando você parar de dar palpite na minha vida”. E, nessa hora, entendemos: é preciso ajudar com consciência.

Quando cai a ficha, percebemos que algo está errado. Queremos ajudar com boas intenções, parece até uma missão. Mas então descobrimos: ninguém pode ser ajudado se não quer mudar. Ou afundamos junto, ou aprendemos que viver a nossa vida não é egoísmo, é sobrevivência. E que, às vezes, por mais que doa, amar é também deixar ir.

Esse não é nosso jogo, pois ninguém consegue viver a caminhada do outro. O que nos resta fazer é dialogar, e não tentar dar um passo que não é nosso.

Todos nós traçamos projetos ousados para nossas vidas. Ninguém vai nos impedir. Mesmo que venham com boas intenções, soam para nós como uma inquisição. Mesmo que às cegas, queremos caminhar pelo nosso destino para o que der e vier. Quem tem o coração caloroso sente o batimento impulsionar afeto na caminhada, um sentimento solidário e tem esse impulso de ajudar e palpitar.

Lembro-me bem de uma vizinha da rua Carlos Rodrigues da Cunha, onde morávamos. Ela vivia com um marido alcoólatra, e a filha estudava conosco. Depois de presenciarmos uma cena terrível, decidimos agir. Eu e Ani conversamos com ela, demos força, e ela nos contou que seu pai, sem emprego, não levava alimento para casa. Imediatamente, saímos pedindo ajuda aos vizinhos, compramos uma cesta recheada de mantimentos e levamos para a casa da amiguinha. O resultado? A família toda se voltou contra nós. E a coleguinha nos disse, friamente: “Esse assunto não é dá conta de vocês”. Foi duro ouvir aquilo. Mas aprendemos algo importante: para ajudar, é preciso mais do que boas intenções. É preciso que o outro queira ser ajudado. Sem isso, o ato mais generoso pode ser visto como invasão.

Pense bem: estar presente de verdade ao lado dos filhos não é apenas impor regras e cobranças, mas também oferecer escuta, presença e afeto. É lembrar que eles têm suas próprias vidas a construir, com sonhos, planos, escolhas e erros que precisam ser vividos por eles. Tentar frear tudo pode, paradoxalmente, ser um ato de rebeldia do próprio pai ou da mãe. O melhor caminho é estar junto, mas sem invadir. Orientar, mas não controlar. Dialogar sempre com filhos, amigos, desconhecidos, mas com consciência, como apoio, não como molde, porque a ajuda, por mais bem-intencionada que seja, é uma faca de dois gumes: pode transformar, mas também pode afastar. Às vezes, queremos ajeitar a vida do outro mais do que ele mesmo quer. E isso, ao invés de aproximar, gera distância.

Amar é confiar que o outro encontrará o próprio caminho, mesmo que erre no trajeto. E, no fundo, aceitar que cada um tem o direito de escrever a sua própria história e que, por mais que queiramos segurar a caneta, o papel não é nosso.

Dois beijos...

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM OnlineLogotipo JM Online

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por