INÁ E ANI

Blecaute

Iná e Ani
Publicado em 07/03/2023 às 20:25Atualizado em 07/03/2023 às 20:35
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Sinceramente, atire a primeira pedra quem nunca passou pelo constrangimento de ler um livro e não saber interpretar a mensagem.

O poder de concentração tem sido gravemente ameaçado, um músculo que precisa ser exercitado. Adolescentes que passam do limite no computador perdem o foco. Ficam completamente desatentos no meio de uma conversa, sem saber como interpretar. Qual a capacidade de reflexão desses jovens? Nenhuma.  Apelidados de geração “mimimi”, uma geração imediatista, a linhagem do eu.                 

Amigas no shopping, adultas, em conversas interessantes, interrompem, a todo momento, o assunto para checar o WhatsApp, sem ouvir o término do bate-papo. Sentimos uma tremenda falta de conexão, estão em outra sintonia. Afinal, sem concentração é muito mais difícil manter um relacionamento ou tirar ideias de uma leitura. Muitas querem respostas imediatas, as reflexões passam longe.

Quando o jornal “O Triângulo” foi desfeito, os familiares paternos mudaram de Uberaba. Sabendo que no ano de 1857 havia surgido na cidade do Prata um movimento de historiadores pela emancipação do Triângulo Mineiro do estado de Minas Gerais, papai procurou os “bambambãs” do pedaço e, de imediato, foi convidado a instalar o jornal “O Triângulo” na capital do leite. Após quatro meses por lá, ele nos chamou a conhecer nosso novo endereço.                      

Na cidade dos pratenses, vivenciamos o que chamamos de Felicidade. Tornamo-nos as princesas do lugar. No auge dos 15 anos, por sermos as filhas do jornalista, recebíamos constantemente convites para festinhas caseiras. Ora jantarzinhos para cá, ora para lá, era a nossa ocupação. Circulando com as grã-finas, sempre muito cortejadas. O estudo, depois de dois meses, chamava-nos de volta. Retornamos com mamãe e com lembranças da aconchegante cidade para onde breve voltaríamos.

Após alguns meses, veio a notícia derradeira. A robusta verba da Prefeitura chegou; os amigos do papai, “amigos da onça”, inverteram a papelada e transferiram para a melhoria da Banda de Música. As articulações políticas, evangelizando a população com seu ideal de promover a cultura e as tradições da comunidade pratense, foram por água abaixo. “Lamento dizer, Sr. João Luiz de Sousa, a Banda Musical é uma forma de entretenimento e lazer para a comunidade, bem como uma oportunidade para os músicos locais mostrarem seu talento.”

“A ingratidão é o mais horrendo de todos os pecados”, já dizia Alexandre Herculano.                               

Ao retornar a Uberaba e nos contar com os olhos lacrimejando, vimos que houve uma queda de energia total, perdeu a luz do olhar e adoeceu a alma. Sua luz se apagou.                         

Cada um enxerga seu trajeto de uma maneira própria. Resumindo, não precisamos ler, entender o conteúdo ou compreender a história. O automático, o imediato, por ser o mais fácil, é o que muitos desejam.

Olhamos uma para a outra e fomos adoçar o amargo da boca, tomar um sorvete! Mamãe pegou o violão e cantou, cantou muito! Ela sempre cantava na alegria e na tristeza. Eurípedes, nosso querido irmão, que residia em Araguari, fez um interurbano e conversou muito tempo com papai, que mais ouviu do que falou.

Esses momentos difíceis nos voltam para dentro e nos ensinam silêncio, paciência, resiliência. Dão lições sobre preferências e indiferenças…

A Banda… a banda…  É alegria imediata!

Dois beijos...                         

Iná e Ani
gemeasanina@hotmail.com

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