A individualidade é uma das maravilhas da existência humana. Cada um de nós é único, com suas próprias experiências de vida, perspectivas, valores e formas de entender o mundo ao seu redor. Com certeza, todos têm seu próprio caminho, lutas, triunfos, alegrias e desafios.
Devido à nossa semelhança como gêmeas idênticas, quase que, inconscientemente, acabávamos por nos transformar, por assim dizer, em uma única pessoa. Éramos iguais, sim, mas em nós palpitavam personalidades distintas. O mesmo DNA, nomes em anagramas que podem ser lidos à maneira do espelho, ganhávamos um livro para as duas, roupas idênticas, sonhos, aspirações iguais. Enfim, semelhantes em todos os aspectos; no entanto, cada uma de nós desenvolveu sua própria identidade e caminhos na vida. Embora eu e Ani compartilhássemos uma vida de conexão permanente, encontramos o equilíbrio para sermos pessoas distintas, com sua própria individualidade. Nossa identidade só era misturada quando estávamos de acordo. Difícil? Não. Sabíamos exatamente que nascemos juntas e não morreríamos juntas. Como dói a saudade de sua vibração positiva e de nossos sonhos!
Uma dualidade permanente de alegrias e realizações, quando é interrompida, quer seja de irmã, esposo, filhos, amigos íntimos, o amor e atenção que recebemos dos outros é reconfortante, mas essa perda emocional não se baseia na aprovação externa, pois nos sentimos vazios, vulneráveis em busca de alguém, flutuações de afeto, esquecendo-nos de que a verdadeira plenitude está dentro de nós e que não existe um Salvador da Alma, temos que buscar em nossas estratégias a força necessária.
Tivemos uma tia cuja vida era movida a desafios. Nasceu para ser artista, aparência de grande beleza, voz encantadora, que aos dezesseis anos cantava nas igrejas, em casamentos, eventos públicos, um potencial extraordinário das grandes vozes da música popular brasileira. Quando recebeu um convite para ir a São Paulo tentar a sua vida artística, foi impedida de seguir sua paixão por causa das expectativas e normas sociais que entraram em sua individualidade tirando totalmente suas aspirações. Mesmo assim, continuou a cantar em família, sempre ressentida em terem violado sua autonomia, sonhos, esperanças, objetivos.
Isso acontece com muitas mães que influenciam a vida de seus filhos, levando-os a caminhos que elas desejam. Quando eles percebem que foram manipulados e controlados em sua identidade, que é “única”, ficam revoltados. Cada um tem um caminho solo, irrepetível na existência. Essa influência pode ser prejudicial para ambas as partes envolvidas.
Enquanto estamos sendo conduzidos pelos outros, nó nos anulamos. Independentemente das opiniões e expectativas dos que nos cercam, temos que, sozinhos, nos encontrar!
“Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim...”
Dois beijos...
Iná e Ani
gemeasanina@hotmail.com
Ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro