Sempre vimos o Natal com a atmosfera mágica da figura do Papai Noel, do presépio, guirlandas e presentes, na hora da ceia o tio destrinchando o peru natalino, mesa farta, frutas naturais e cristalizadas, cantoria e muita bebida, uma festa pagã. Imaginávamos aquele velhinho vestido de vermelho, indo a todos os lares, pobres ou ricos, deixando o brinquedo no sapatinho das crianças, dando a sensação de que a vida no Natal era mágica.
Foi numa véspera de Natal que o estrupício de nosso primo se aproximou com olhar sinistro, assustador, sussurrando como um demo, causando um pico de “trocentos” batimentos cardíacos por minuto. “Vou contar um segredo. Papai Noel não existe, ele não é velhinho, usa barba e barriga postiça, triste, alcoólatra, se alimenta mal e tem tatuagem no pescoço. Ele é meu vizinho.”
Será que o primo mais velho queria acabar com a nossa alegria? Essa revelação foi impactante e para nós ele era vidente. O olhar da irmã gêmea Ani gerou preocupação, provocando-me medo e ansiedade. Enquanto os primos e primas decoravam a casa da avó materna por dentro e por fora, a árvore imponente sendo coberta de algodão, jardim com pedrinhas brancas imitando neve e lagos congelados, ficamos alienadas, em contagem regressiva.
Amanhã é Natal! Se descobrimos o segredo de Papai Noel, pra que Natal? Então, aos sete anos, tudo ficou cinzento. A celebração desta data, que costumava ser uma época de luxo, riqueza, presentes, passou a ser de desilusão, confusão e tristeza. Então o bom velhinho, bispo São Nicolau, que era o que nos levava presentes, não existia?
Uma luz se acendeu em nosso coração. Olhamos e vimos o Menino Jesus no presépio, com os bracinhos estendidos para nós. Foi a nossa querida e santa tia Alva que, colocando a Estrela na manjedoura, nos explicou com paciência todos os personagens: Nossa Senhora, São José, os Três Reis Magos e as raízes de São Nicolau. Ali estava o verdadeiro significado do espírito natalino: o nascimento de Jesus Cristo.
A alegria de compartilhar presentes, associada à essência do Natal, marcada pela bondade e perdão, enfatizou em nossos corações a importância do aniversário de Jesus. Essas memórias natalinas contribuíram para a nossa construção familiar, irmandade e encantamento eterno.
Que nunca falte, em nenhum lugar cristão, a sintonia do amor a Cristo no Natal. E vamos soltar nosso imaginário infantil e esperar que o Bom Velhinho nos encante com um lindo presente enviado pelo Menino Jesus.
Dois beijos...
Iná e Ani
gemeasanina@hotmail.com
Ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.