ANI E INÁ

Chutando o balde

Ani e Iná
Publicado em 19/04/2023 às 18:35
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Todos nós já passamos por momentos assustadores que podem se transformar em lembranças engraçadas. A verdade é que temos que encontrar humor em situações difíceis e torná-las até piadas no decorrer da existência. Convenhamos, a vida não é só uma caminhada em linhas retas, o fato é que chega uma hora em que o jeito é rir de si mesmo, dar risadas quando cai, o importante é não ficar no chão. Quem não passou por momentos de estresse e, raivoso, teve que engolir em seco e se sustentar no equilíbrio?! O importante é aprendermos a diversificar numa boa.

Paixões aparecem ao longo da vida. Apaixonadas, fizemos o curso de flores e focamos em um novo negócio, uma renda paralela. Foi uma experiência que envolvia beleza e encanto, trabalho e amor. Com as mãos rebocadas de tinta, unhas de várias cores, abrimos o comércio de flores. Bem situado, ao lado do SesiMinas, acarpetamos, colocamos nas paredes quadros emoldurados com fotos primaveris, enchemos de vasos com hortênsias, desidratadas e tratadas, rosas, cravos, margaridas, girassóis. “Ficou nos trinques”. Decoração de Ani, que tinha mãos de fada. Eu, às voltas com o contador, aluguel caro, papelada, assinamos o contrato. Um investimento nosso, nova carreira.

Sentamos, esperando a clientela, até que apareceu uma viva alma. Sorrindo até a nuca, a senhora se encantou com todas as flores e fez a encomenda. Entre as “obras-primas”, escolheu a sua. Um “milk-shake” de três flores de cada espécie. Montamos aquele arranjo escalafobético, desengonçado, feio demais. As vendas continuavam... Cada vez mais perplexas, seguíamos a freguesia. Nenhum buquê de rosas vermelhas, nem de vasos só de margaridas. Fomos aceitando a ideia e percebendo que “o amor é cego”; “quem o feio ama bonito lhe parece”.

Foram seis meses nessa atividade e as mãos cada vez mais coloridas de anilina e machucadas em cortar, colorir organzas, sedas, com ferros para cada tipo de flores. A aberração foi demais, explodiu! Rescindimos o contrato com prejuízos e alma lavada. Percebemos, claramente, que o comércio não era nossa praia. Como escreve nosso articulista Fulvio Ferreira, palestrante com foco em atendimento e expert em vendas: “Cada macaco no seu galho”.

Outro “perrengue” foi quando papai, com suas manias de competição, dizendo ser um mal necessário, inventou uma pescaria na fazenda de Rodolfinho e Mariquinha. Acordamos muito cedo, saímos com cinco varas de pescar. Quando paramos à beira do rio, ele distribuiu uma latinha e disse: “Um vai ficar fora, tem quatro varas e cinco pessoas. Quem encher mais rápido a latinha de minhocas fica com a melhor vara de pescar”. Pensei: “Vou ficar fora da pescaria”. Ao dar o sinal de começar, Ani meteu as mãos no barro atrás das minhocas, encheu a latinha e ganhou a melhor vara. Querendo superar o nojo ao ver a minhoca enrolando no dedo, fiquei alarmada. Essas torturas, provas desafiadoras, trazem-nos desconforto e mostram nossas limitações. Nessas situações, nosso “babaca” secreto particular morre de vergonha, como algo ruim que não podemos controlar. Nesses momentos, ao aceitarmos nossos limites e fobias, é que evoluímos e entendemos que eles fazem parte da vida. 

As sabotagens da vida aparecem para todas as pessoas, talvez por isso essa busca maior e verdadeira seja difícil e alguns fiquem parados na zona de conforto. Em vez de ficarmos lamentando em autocompaixão, procuremos ver o lado positivo das falhas, aceitando as nossas dificuldades sem julgamento. Mas torço mesmo para que sejamos corajosos e desafiadores até encontrarmos nossas realizações pessoais.

Não existem caminhos sem metamorfoses.

Dois beijos...

 Iná e Ani 

gemeasanina@hotmail.com

Ocupa a cadeira n.º 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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