Será que a mulher de hoje está procurando sua cara-metade ou prefere investir em sua carreira ou em seus hobbies?
As mulheres, além da paixão, procuram um parceiro que possa ser ouvinte, aberto ao diálogo. Um homem que enfrente altos e baixos, mantenha firmes os seus segredos e desconfianças. Nós, mulheres, somos extremamente companheiras e queremos ao nosso lado um cúmplice. Cultivando o respeito e carinho, deixamos uma enorme prova de amor, os nossos filhos.
Ninguém quer um relacionamento e se separar de uma hora para outra. Todas nós buscamos, com a nossa cumplicidade, não o modelo de relação perfeita, mas sim o equilíbrio.
Alguns exemplos de casais cúmplices podem ser encontrados entre os famosos que compartilham seus relacionamentos publicamente: Tony Ramos e Lidiane Barbosa (52 anos), Bruna Lombardi e Carlos Alberto Ricelli (46 anos), Glória Pires e Orlando Morais (46 anos), Barack Obama e Michelle (30 anos).
Surgem lembranças de Araguari... Tia Alva de Oliveira Santos Bittencourt era casada com tio Marinho Bittencourt, um casal de companheirismo e cumplicidade. Era um querendo agradar ao outro o tempo todo nos desafios da vida. Prestativa, bonita, elegante, organizada desde a cozinha até a sala de jantar. Havia dois portaits, a óleo, expostos no meio da sala, pendurados na parede, que pareciam ficar para a eternidade. A todo momento ouvíamos a voz doce de tia Alva, preparando quitutes, esperando tio Marinho. Não ficavam de beijos e abraços, mas sentíamos o projeto de vida com que o amor os contemplava.
Espelhadas neste exemplo, fomos atrás de nossos sonhos.
Foi em uma de nossas viagens a Belo Horizonte que os padrinhos da Ani arrumaram nosso primeiro casamento com gêmeos idênticos. Tínhamos 14 anos. Apresentaram-nos Danilo e Murilo. Esses pretendentes nos deixaram muito lisonjeadas. Além de bonitinhos, com 18 anos, fazíamos deles verdadeiros rapazes. Ambos eram artistas, às voltas com música, o que nos encantava ainda mais. Danilo tocava piano e Murilo, violão. A mãe dos jovens, empolgada com a nossa presença, chamava-nos de “norinhas”. Apaixonamos à primeira vista.
De volta a Uberaba, as lembranças ficaram afloradas. Depois de três anos, os jovens entraram em contato conosco. Eufóricas, com 17 anos, fomos rever os gêmeos já homens feitos, com profissão definida. O encontro foi uma surpresa. Uau!… Ou tínhamos crescido demais (1,71m) ou os pretendentes (1,65m) tinham parado no tempo. Uma tolice, mas, como adolescentes, pesou. Logo, com modo elegante e charmoso, disseram: “Nós sempre gostamos de moças lindas e altas”. Pronto! Derrubaram todas as convenções sociais de que o homem tem que ser maior que a mulher. Assim, o amor voltou à segunda vista.
Fomos os quatro ao cinema; Ani logo escolheu o dela: “Quero o Danilo, que toca piano”. Para não ficar em desvantagem, respondi: “Tanto faz. Cara de um, focinho do outro”. Em um dado momento, saíram para comprar balinhas e aproveitamos para ir à toalete fofocar sobre eles. Na volta, no escurinho do cinema, não sabíamos quem era quem. Ao retornarmos às carícias de mãos trocadas e nossos primeiros beijinhos de adolescentes, sabíamos que alguma coisa estava fora de ordem. “Deu ruim.”
Chegamos à conclusão de que casamento entre gêmeos idênticos é um perigo. Precisam ser pessoas meticulosas e detalhistas. Procuramos esquecer os gêmeos e a troca sem intenção.
Acreditamos que o amor cúmplice é algo que nos faz lembrar quem somos. Seja entre amigos, amor de pai, de mãe, de filhos, de amantes, transcendental, é válido de todas as maneiras. Acreditamos que todos procuram a mesma coisa: os relacionamentos mais profundos, verdadeiros, duradouros. Talvez hoje essa busca por um parceiro infinitamente real está mais difícil.
O que realmente desejamos é o amor verdadeiro.
Dois beijos
Iná e Ani
gemeasanina@hotmail.com
(Ocupa a cadeira N.º 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro)