Em minha época, éramos verdadeiros macacos de auditório dos americanos, porque ainda não existia internet. Endeusávamos a cultura e os produtos culturais estrangeiros.
Na juventude, os filmes, as séries de TV e os artistas hollywoodianos estampavam as capas das revistas mais famosas do Brasil, como Manchete, O Cruzeiro e A Cigarra. Os Estados Unidos possuíam uma poderosíssima indústria cultural, cujas produções chegavam ao Brasil antes mesmo da popularização da televisão.
Muitos de nós colecionávamos álbuns de artistas estrangeiros, e essa influência americana continua viva até hoje em nossas mentes. Basta observar a comemoração do Halloween, que pouco tem a ver com as nossas tradições e com a formação cultural brasileira. Todos os anos, no dia 31 de outubro, escolas promovem o “Dia das Bruxas”, incentivando festivais de horrores e fantasias importadas.
Mas será que já não está passando da hora de resgatarmos a nossa brasilidade nas escolas?
Mais do que ensinar cultura, é preciso ensinar o valor do que é autêntico, do que nasce do povo e da terra. As crianças podem até gostar do Halloween, tudo bem, mas não podemos permitir que nossas raízes se percam.
Por que não promover nossos próprios personagens? Nosso folclore é riquíssimo, fruto da miscigenação entre diversos povos, e guarda lendas maravilhosas.
Em casa, papai nos presenteava com a coleção de Monteiro Lobato, cujos personagens vibrantes, por vezes assustadores, marcaram nossa infância. Que bruxa poderia ser mais apavorante que a Cuca? E quem não se encanta com o travesso Saci-Pererê, o Caipora ou o Curupira?
Por meio do Sítio do Picapau Amarelo, Monteiro Lobato eternizou essas figuras que representam nossa identidade. O menino de uma perna só, de cachimbo e gorro vermelho; o protetor das florestas de pés virados para trás; a guardiã dos animais, de cabelos avermelhados... São símbolos únicos da nossa imaginação popular!
Está na hora de valorizarmos essa cultura, muitas vezes celebrada apenas de forma superficial. Algumas cidades e estados já demonstram vontade de reforçar nossa identidade cultural, mas o comércio ainda prioriza o Halloween, mais lucrativo, é verdade.
Enquanto isso, nossos personagens continuam escondidos nas matas...
O comércio se enche de fantasmas, abóboras e bruxas importadas, produtos bem elaborados, que encantam os olhos, mas não falam à nossa alma.
Enquanto isso, nossas mães e avós ainda costuram em casa as fantasias de Curupira, Caipora, Visconde de Sabugosa e Vovó Anastácia.
Precisamos resgatar o que é nosso: nossas histórias, nossos personagens, nossa imaginação brasileira.
É hora de celebrar o que vem da nossa terra, do nosso povo e da nossa memória.
Por que não realizar teatros infantis com o Caipora, o Curupira e tantos outros seres mágicos do nosso folclore?
Nossas lendas não ficam atrás do Halloween; ao contrário, superam-no em riqueza, mistério e brasilidade.
Vamos, então, eternizar o nosso folclore!
Dois beijos...