ARTICULISTAS

Eu, tu, eles

Ani e Iná
Publicado em 19/02/2024 às 18:50
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Todos nós temos nossas verdades e nossas próprias características e tendências naturais: “Eu sou assim, vou viver como quero, ninguém vai me mudar”.  Traduzindo:  “Cada um na sua”. Sendo assim, como conviver com os outros?

Essa aceitação e respeito ao individualismo da pessoa vai até certo ponto. Se necessitamos conviver bem, seja em casa, no trabalho ou nas redes sociais, significa necessariamente que “não precisamos mudar quem somos”, mas devemos nos colocar no lugar do outro.

Conviver é uma difícil arte. Encarar pessoas com base em condições preestabelecidas e aceitá-las com seus defeitos é muito desafiador. Lá no fundo, no íntimo mesmo, nós somos o que somos e ponto. Não é possível nos virarmos do avesso. A gente entende, na raça, que não podemos transformar ninguém, mas podemos melhorar o que o outro gerou em nós.

Nossa família materna, de Araguari, tinha uma convivência de respeito e aceitação. Uma harmonia saudável de não querer mudar ninguém, nem fazer comparações. Nunca existiram conflitos entre eles. Em reuniões familiares, era só alegria, mantendo sempre um bem-estar coletivo, todos sendo valorizados e respeitados.

Eu e Ani passávamos todas as férias com nossos familiares maternos, sem trocar Araguari por nenhum lugar do mundo. Lá era nosso lugar, tias e tios elegantes (no sentido do respeito), interações agradáveis, uma família unida pelo amor, pela camaradagem, como uma “teia pulsante de emoções”. 

Cada um procura o que lhe faz bem, busca seu pote de ouro. Era lá com familiares maternos que havíamos encontrado o tesouro. Todos tinham inclinações para a arte, recitais, música, ora tocando violão; enfim, muita cantoria, comida e bebedeira, sempre com sensação de pertencimento e acolhimento. Eu e Ani éramos escolhidas para cantar, dançar. O teatrinho era programado sempre com os primos.

Nos encontros paternos, nossos tios eram pessoas voltadas ao intelecto, complicados, “limão azedo”. Diálogos e discussões constantes aliados a livros em foco, publicações de políticos. Eram até assuntos enriquecedores, de muito aprendizado. Como crianças, não podíamos palpitar, e isso nos levava a um aumento de emoções e tensões. Quando o assunto chegava na empresa familiar “O Triângulo”, parecia colocar o dedo em uma ferida aberta. Questões como sucessão, gestão, competitividade deixavam o clima tenso. Tanto que nas “bodas de ouro” de nossos avós, que amávamos de paixão, a parentada apareceu, menos nós duas. Nem com o prêmio da “Mega-Sena” nos fariam mudar de ideia, preocupadas em emergir o assunto do jornal familiar, que se transformava em “disque-denúncia”. Que nos perdoem vovó Lilica e vovô Nicanor. Minha Nossa!

Quando nossos pais resolveram nos colocar em colégios diferentes, a meu pedido, eu fui parar no Nossa Senhora das Dores. Ao deparar com tantas jovens que se me afiguravam como estranhas, foi desafiador, sendo difícil a adaptação; por isso, após o término do ano letivo, voltei ao meu ambiente educacional. Essa experiência ofereceu-me suporte de encorajamento, autoconhecimento, mudanças positivas de convivência.

Cada pessoa tem sua própria personalidade, seus valores, crenças e experiências únicas de vida. Temos que aprender a lidar com as diferenças e construir novos relacionamentos. Estar abertos ao aprendizado e a mudanças.

Vamos recuperar o que foi perdido – a convivência entre os seres humanos – evitando o distanciamento das pessoas.

Que aprendamos a arte de conviver!...

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