ARTICULISTAS

Infância perdida

Ani e Iná
Publicado em 04/02/2021 às 22:19Atualizado em 19/12/2022 às 05:03
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Criar filhos é o exercício diário da imperfeição. É ensiná-los a serem humanos – com todos os erros que esta condição inclui, talvez seja a lição mais preciosa que possamos deixar para eles.

Neste mundo em que as crianças desenvolvem habilidades digitais cada vez mais cedo, os pais têm dificuldade em conversar com os filhos, ou por falta de tempo ou porque a maioria também está conectada aos youtubers.

Lembramo-nos de nossa infância na rua Carlos Rodrigues, onde todas as tardes nos reuníamos com a meninada para brincar, onde surgiam amigos novos e o contato com nossos vizinhos nos trazia contentamento e aventuras. Brincadeiras como esconde-esconde, amarelinha, vivo ou morto, pular corda, jogar bola na rua, descalços. Quando vinha um carro, todos paravam. Meninos com carrinhos de rolimã que eles mesmos montavam, com capricho e carinho...  Bolinhas de gude... Empinar pipa, acordavam cedo para fazer com papel de seda, caprichavam na rabiola, que era o que mais se destacava, e cada um ia para seu canto, no sol da manhã ou do meio-dia. Eram muitos os divertimentos. A simplicidade que a tecnologia parece ter nos roubado. Íamos para a escola conversando, dando risadas com as amigas e amigos. São lembranças que enxergamos com alegria, mas também com tristeza, pois é um tempo que não volta mais.

A meninada de hoje está aprendendo a “curtir” a sua própria companhia. Inebriadas pela falta de sensação trazida pelos jogos de videogames, seguem fugindo de si mesmas.

Que desafio para mães, avós, educadores, para um universo que sequer temos tempo de conhecer! Com o isolamento da pandemia, é cada dia mais notória a falta que fazem os amigos, o ambiente escolar, os professores, o afeto e carinho.

Crianças irritadas, depressivas, no isolamento domiciliar, tendo como opção os livros e a internet.  “Lugar de criança é na escola.” Desde que ela esteja protegida e os pais possam ter a paz e a conscientização de que a escola esteja respeitando e cumprindo os requisitos básicos de saúde. Imprescindível se torna atender o coletivo para o retorno às aulas de forma saudável e segura. Distanciamento e uso de máscaras. 

A vida continua com aulas remotas e presenciais; o importante é que a educação esteja presente no dia a dia de nossas crianças, cuja infância foi perdida, atropelada por este vírus que ninguém entende direito.

Os mestres merecem aplausos! Desdobram-se nas aulas remotas, estão ansiosos e exaustos, fragilizados e absorvendo culpas e responsabilidade, cansaço, estresse, preocupação, insegurança, medo, cobrança e angústias, muitos tomando medicamentos. 

E nossos alunos, como estão emocionalmente? Quais serão as sequelas na idade adulta?

Sem o contato com a escola, ocorrem taxas crescentes de abusos e exploração de menores, causando traumas e consequências psicológicas que serão vistos pós-pandemia. Quantos meninos e meninas estão numa situação de violência e abandono em seus “ditos lares”? 

Caberá a cada educandário a árdua tarefa de se adequar ao novo tempo. Vamos enfrentar a realidade, com toda a sua complexidade, dureza, tristeza, “mas sem jamais perder a ternura”.

Nesta nova vida, recordamos os versos de Casimiro de Abreu:

“Oh! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais.

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!”

Dois beijos.

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