Era uma noite como tantas outras no nosso barzinho favorito. Eu e Ani e mais duas amigas estávamos lá, aproveitando a companhia e o ambiente descontraído. Entre goles de nossas bebidas compartilhadas, uma das amigas, pela trilionésima vez, queixava-se do namorado indeciso. A mesma lenga-lenga. Uma mistura de exasperação e resignação. Nós sabíamos de cor e salteado a ladainha, por dois anos. Até que a terceira integrante da mesa, com expressão de seriedade, soltou a frase definitiva: “Eu, se fosse você, terminava, mas com um susto no seu namorado e acabava com essa relação ioiô”. Foi impossível não rir. O comentário, misturado com a verdade que carregava, trouxe uma leveza ao momento. E assim continuamos a noite entre histórias de amor dramáticas! No entanto, não percebemos a intensidade da raiva de nossa amiga, um sentimento dominante em sua mente emocional e irracional.
Despedimo-nos, cada uma seguindo seu caminho, sem imaginar o que estaria por vir. Foi no meio da madrugada que recebi um telefonema urgente da Ani. Nossa amiga estava na Delegacia de Polícia. Movida pela raiva intensa e pelo sentimento de traição, havia pegado a chave de fenda e amassado todo o carro do namorado, bem na frente de uma boate, quando o viu aos beijos e abraços com sua melhor amiga.
O conselho da amiga, que parecia ser inofensivo e cheio de humor, havia se transformado em um episódio real e doloroso. Loucura? Tomar decisões impulsivas, sem considerar as possíveis repercussões, é realmente um baita tiro no pé. Quem de nós já não reagiu de forma desproporcional ou equivocada diante de situações do dia a dia e se arrependeu depois?!
Nunca chegamos a extremos, como a amiga. Lembranças, porém, de que muitas de nós nunca fomos jovens boazinhas quando sentíamos algum deboche, violência, injustiça. Não deixávamos o cimento endurecer, pois a defesa não podia enrijecer e a resposta tinha que ser rápida e decisiva; só assim nos aliviávamos.
Eu e Ani sempre participamos de greves e protestos com convicções ideológicas, mas nunca fomos radicais politicamente. Respeitamos preferências. Mas a verdade é que nem todo mundo consegue negociar emoções de raiva, medo, tristeza e nem contar até dez e pensar.
Lidar com as emoções é uma habilidade construída com o tempo e a prática, significa nos tornarmos conscientes e reflexivos no nosso mundo interno, a fim de aprimorarmos nossos conhecimentos na sociedade.
Lemos e ouvimos nos meios de comunicação que retaliações com mentes perigosas, como fazer uma brincadeira a um motociclista, uma fechada ou manobra brusca no trânsito, uma discussão por uma vaga na rua, a falta de controle emocional, podem levar a situações ainda mais complicadas e perigosas, até mesmo à morte.
Romper uma relação de amor pode ocasionar uma frustração. Como explica Daniel Goleman, psicólogo e escritor, autor do best-seller “Inteligência Emocional”: “Quanto mais intenso é o sentimento, mais dominante é a mente emocional sobre o racional”.
Ser emocionalmente inteligente significa saber organizar essas emoções a fim de coordenar melhor nossos comportamentos diante dos desafios da vida com maior resiliência e adaptabilidade.
Em suma, a inteligência emocional envolve reconhecer e compreender nossas próprias emoções e as dos outros. Ao romper uma relação amorosa ou diante de uma traição, quando a paixão se transforma em dor, o sofrimento pode ofuscar o discernimento e levar a reações impensadas.
A intensidade do sofrimento pode ser tão avassaladora que a lógica e o equilíbrio são deixados de lado. A loucura da mulher passional muitas vezes ultrapassa seus próprios limites. Cadê a razão?
Será que a canção de sucesso de Lindomar Castilho retrata esses comportamentos irracionais?
“Doida, muito doida/Você é doida demais!”
Dois beijos...
Iná e Ani
gemeasanina@hotmail.com
Ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro