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Lixomania

Iná e Ani
gemeasanina@hotmail.com
Publicado em 24/03/2024 às 08:08
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Quando fomos visitar a querida tia materna do lado do meu esposo, que vivia isolada, ficamos felizes em vê-la abrir a porta. Entramos e nos acomodamos em um pequeno sofá em que mal cabíamos nós duas, sem espaço, empilhado de roupas; a sala, abarrotada de xícaras, potes vazios, caixas e bichos de pelúcia, colocados uns sobre os outros sem nenhuma lógica aparente. A tia, ao longo da vida, cuidou dos sobrinhos e afilhados; solteira, viveu à sombra da família, com dedicação amorosa. Crescidos, já casados, acharam melhor alugar uma casinha, deixando-a com suas recordações. Em dois anos de abandono, tornou-se um caso de acumuladora compulsiva.

A bordadeira de mãos de fada, cozinheira como ninguém, cuidadora e zelosa dos sobrinhos e afilhados, organizada, estava lá sozinha, roupa desleixada, cabelos sem cuidados, com sua pequena aposentadoria e lembranças. Logo que chegamos, ela sorriu, seus olhos azuis brilhando, mas havia um sutil traço de ingratidão escondido no seu olhar. “Acabei de passar o café!”, e com uma linda bandeja com duas xícaras, uma de cada cor, gostinho do café bem-temperado, deu-nos saudade da exímia cozinheira que tinha sido.

Ao mudar-se para seu novo lar, levou suas caixas, cartas, cartões-postais de Natal, fotos de viagens de entes queridos, não descartando, nem com reza brava, suas lembranças. O que levou a tia àquele ambiente imundo? Desconfortáveis, deixamos as rosas que havíamos levado dentro de uma garrafa de vidro vazio e nossa visita foi curta. Difícil dizer “adeus” a uma pessoa especial. Despedimos com um “Até breve!”, mesmo sabendo que não voltaríamos mais. 

Lembranças do amiguinho, nosso vizinho de rua, que, certo dia, nos chamou para conhecer o quartinho mágico do seu pai, onde tinha de tudo. Curiosas, aos 13 anos, fomos até lá. Ao abrir a porta, ficamos atônitas. Pregos, ferros, chifres, armadilhas de caça, jogados em um canto, meio escondidos na bagunça, guarda-chuvas, panelas, tampinhas, jornais, revistas, coisas sem valor que impediam transitar no recinto. Ani elogiou os chifres de veado e, gentilmente, ele nos deu de presente, dizendo que depois acertaria com o pai. Despedimos com as sacolas de bagunça, “tralha velha”, eu pensando com meus botões: “O que fazer com essas galhadas? Deus meu! Livre-me de tantos chifres!”.

Eu e Ani começamos a meditar e contar nos dedos os acumuladores da família e achamos muitos. Será que acumular é coisa hereditária? Valha-me Deus!

Ficamos matutando… Embora muitos possam colecionar objetos porque são bonitos, são diferentes de um acumulador.

No passado, colecionar era costume elegante, bonequinhas com trajes típicos de cada país, selos, moedas, porcelanas, flâmulas, chaveiros, relógios, livros raros e outros itens. Uma prática popular entre diversas classes sociais. Lembranças das amigas colecionadoras bizarras, como a coleção de perfumes vazios, abarrotados nas gavetas do armário; colecionadora de discos de vinil em quatro prateleiras no quarto em que dormia; bonecas maiores que as filhas, as mães enchiam o quarto para admirar, e nunca brincar.

Esse impulso de colecionar objetos tem uma forte ligação emocional. Muitas pessoas ainda têm dificuldade em separar um colecionador de um acumulador. A “alma do colecionador” é de prazer em partilhar, em mostrar seu acervo aos demais, mantendo tudo organizado, limpo, demonstrando orgulho. O acumulador, por sua vez, tende a esconder os objetos, como se escondesse um segredo. Porém, a linha entre colecionador e acumulador pode ser tênue e se desenvolver.

Dificuldade em descartar itens sem significado e utilidade, enchendo armários, gavetas, closets, sem uso e serventia, pode ser o início de um transtorno de comportamento e, como tal ocorre, variando de leve a grave.

Para não tornar seu ambiente insalubre e adquirir hábitos de acumulador, comece a se desapegar e a doar. Essa atitude faz bem para a alma e ajuda a manter a casa organizada.

Dois beijos...

Iná e Ani
gemeasanina@hotmail.com
Ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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