O tempo vai passando e cada um é que descobre a forma de abastecer sua vida. Práticas funcionam para alguns, mas podem não dar certo para outros. É por meio da escuta atenta sobre nossas reais necessidades que podemos conduzir o dia a dia com ações que nos mantenham em equilíbrio.
Nossas vibrações, minha e de Ani, subiam quando praticávamos o bem. Sempre tivemos compulsão por compras, viagens, autocuidado, porém a convocação para a ação em favor do próximo era nossa prioridade. Ajudar alguém em desespero tornou-se uma prática fundamental e libertadora para nós.
Quando papai foi chamado ao Fórum para ser presidente do Comissariado de Menores em Uberaba, foi um “Deus nos acuda!” Mamãe que o diga. Chegava em casa, sem mais nem menos, com duas, três ou quatro crianças descamisadas, de pés no chão, colocava-as sentadas na “sala de almoço”, abria a geladeira e as servia com o que tivesse. O pudim de creme, o manjar branco, o leite com Toddy e bolachas eram servidos à vontade. Apresentou-nos o “Piradinho”, “Diabo Loiro”, “Magrelo”, “Chupeta” e outros. Tratava-os como gente importante, tornaram-se protagonistas de sua vida e o faziam chorar.
Com determinação e a carteirinha de Chefe dos Comissários e mais dois assistentes, adentrava nos barracões à procura de crianças desajustadas e fazia amizade com os familiares. Encaminhou muitas delas a famílias, que as adotavam oficialmente. Eu mesma assinei termo de guarda de uma menina que tinha 12 anos. Ela ficou comigo até completar 29 anos, quando se casou. Ações que mesmo quem acha que não tem tempo pode descobrir e encontrar um espaço na sua agenda para fazer o bem. Era assim que o jornalista achava combustível para suas realizações.
Lembro bem, chegando a Uberaba, em época de pandemia de Covid, o Circo Khronos. Seu proprietário, Luciano Rangel, e familiares, “sem eira nem beira”, encontraram amparo ao pedir ajuda ao presidente da ALTM, João Eurípedes Sabino, e esposa, Zulmira. Arrumaram o terreno, pediram cestas básicas para os amigos, com energia e determinação e o propósito de ajudar todos os familiares circenses. Época difícil para conseguir trabalho e alimento. Sofreram muito. Milagre? Foi fácil? Não. Apoio, ação, determinação e propósito fizeram a diferença.
Quem lá esteve viu, em estilo drive-in, conforto, obedecendo às normas de segurança, distanciamento dos carros, as luzes do Circo Khronos reacenderem! Refletores colocados no chão iluminavam o rosto dos atores, palhaços, malabaristas, mágicos… e muito mais. Em Uberaba, foi o recomeço de suas vidas. Ao final do espetáculo, homenagem de gratidão ao “Salvador do Circo”.
Hoje a certeza de que o bem venceu! Voltando de Rio Claro, São Paulo, João Eurípedes Sabino e esposa trouxeram a notícia de que foram assistir ao espetáculo do Circo Khronos, que voltou a rodar pelo Brasil afora e com sucesso. “Iná, já imaginou quantos milhares e milhares de espectadores conseguimos fazer sorrir com a nossa ação em Uberaba?” Palavras que me emocionaram.
Que todos possam conectar-se com ações que nos tragam laços de amorosidade, leveza e gentileza com outros e, ao mesmo tempo, façam bem a nós mesmos. Nossas práticas solidárias não são ponto de chegada, mas o caminhar do amor dentro de nós.
Vamos sempre pedir ao Supremo energia suficiente neste envolvimento de entrega e de bondade aos que estão em nível de desamparo.
“Nada do que foi será / De novo do jeito que já foi um dia / Tudo passa / Tudo sempre passará/ A vida vem em ondas, como um mar / Num indo e vindo infinito...”
Dois beijos...
Iná e Ani
gemeasanina@hotmail.com
Ocupa a cadeira n.º 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro