ARTICULISTAS

Mau-olhado

Iná e Ani
Publicado em 06/11/2024 às 18:46
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Você já chegou em algum lugar em que familiares, colegas de trabalho ou até vizinhos param de falar e o silêncio toma conta

Esse tipo de situação traz uma sensação desconfortável e até cria uma percepção de exclusão, como se fosse um julgamento implícito. Olhares furtivos ou pausa no diálogo podem parecer crítica. É fácil sentir que estamos sendo avaliados. Às vezes nasce de nós mesmos o desconforto de que interrompemos algo ou não estamos à altura daquele assunto.

Lembranças quando, em um dia comum, fomos visitar uma tia. Era aniversário do tio "torto" e não havíamos sido convidadas. Bem recebidas pela chegada de surpresa, fomos quase que obrigadas a permanecer no recinto da tia querida. Nesses momentos, usamos máscaras para nos proteger de nossas fragilidades e poder ajudar a quebrar essas barreiras. Tivemos a sensação de olhares tortos, disfarçados de inocentes. Parecia ser uma desaprovação por termos chegado em um momento errado.

Esse tipo de desconforto nos levou a indagar: “O que viemos fazer aqui?” Era como se o lugar ou as pessoas em volta passassem uma energia pesada que nos drenava. Os olhares alheios nos transmitiram sentimentos de rejeição ou crítica. Eu olhei para Ani e falei: “Aqui tem mau-olhado”.

Diante de eventualidades como essa, temos que respirar fundo e buscar um ponto de calma dentro de nós. Foi muito libertador ao sairmos daquela ciranda de olho gordo.

Nossas mães, em práticas tradicionais, nos levavam em benzedeiras, e lembro que as folhas passadas no corpo murchavam.

O escritor Carlos Pedroso – professor, teólogo, filósofo, pesquisador – escreveu o livro "Cafubira e Vauranas”, um trabalho muito profundo e minucioso, lançado em 1998. Um título que já traz um sabor bem tradicional, remetendo aos tempos dos nossos avós e aos costumes antigos.

É verdade que essas práticas, como as benzeduras, carregam uma sabedoria popular transmitida de geração em geração, mas hoje enfrentam o risco de desaparecer em meio à modernização. Em seu livro, o folclorista de primeira grandeza desmistifica os curandeiros e benzedeiras, mas ao mesmo tempo apresenta o ritual de palavras usadas por quem se dedica a esse tipo de cura.

Eu tive um "cobreiro" que ficou na coxa esquerda 8 meses e só curou com uma benzedeira. Já havia usado todos os medicamentos de laboratório. Mistérios!...

Quem não tem um “olho grego” atrás da porta, acessórios com o poder simbólico de afastar o "olho gordo" ou um santo em volta do pescoço?!   

Afinal, a melhor resposta para a negatividade é justamente não deixar que ela afete nosso equilíbrio. O mau-olhado é uma energia tão poderosa, pesada e negativa em um ambiente, que pode até mesmo deixar as plantas murchas!

Uma alternativa é a ORAÇÃO, nosso ato de proteção. Na verdade espiritual, o nosso amuleto mental é Deus.

Como diz a canção de Rita Lee: “Deus me salve da sua praga/Deus me ajude da sua raiva/Deus me imunize do seu veneno /Deus me poupe do seu fim!”

Dois beijos...

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