Você já pensou em largar seu trabalho e procurar brechas para outros caminhos?
Conhecemos muitas mentes brilhantes ocupando cargos de coordenação em grandes empresas, presas à falsa segurança da estabilidade — mas com garantia de servidão. São como marionetes, obedecendo fielmente à empresa e ao chefe, mesmo quando as situações contrariam seus próprios princípios.
Tudo se torna inautêntico, parasitário — a voz já não é sua, mas a do outro.
Quando surge o desejo de desistir, na verdade é a vontade de criar uma história diferente daquela que nos suga — é o chamado da liberdade, a coragem de reescrever a própria trajetória. É o momento da escolha e da decisão.
Em meu tempo de trabalho no SesiMinas, o operário padrão era símbolo de dedicação. Humilde, comprometido, trabalhava em firmas industriais oito horas por dia, inclusive aos sábados e domingos, com direito a uma única falta semanal. Se faltasse por doença e não apresentasse o atestado, perdia o tíquete-refeição. Batia o ponto na entrada e na saída, tinha a carteira assinada com um salário mínimo, em dedicação exclusiva.
Ser condecorado era motivo de orgulho, um reconhecimento sincero de esforço e disciplina.
Ainda assim, há algo admirável naquele modelo antigo: a lealdade, o sentido de pertencimento, o valor do dever cumprido. Amém!
Mas os tempos mudaram...
Hoje, quem ainda quer essa homenagem? Você gostaria de trabalhar assim?
O cenário é outro. O mundo valoriza o profissional versátil, aquele que se adapta, que busca novos caminhos, que se recusa a viver trinta ou quarenta anos sob um regime quase militar para se aposentar com uns trocados a mais.
Entre a estabilidade de antes e a liberdade de agora, seguimos tentando equilibrar o que fomos e o que desejamos ser.
A mudança de rota é para pessoas que sabem o que querem e que se reconhecem autênticas ao tomar decisões diferentes daquelas que antes tomariam.
Você vai ouvir: “Você é louca, egoísta, impulsiva, está jogando seu trabalho no lixo!”.
Mas, no fundo, sabe que muitas diriam em silêncio: “Você fez exatamente o que eu quis fazer, mas não tive coragem”.
Quando começamos a colocar energia em nós mesmos, a mudança de rota e o fechamento de ciclos se tornam um privilégio.
Nesses casos, a desistência não é fracasso: é libertação.
É a afirmação de que queremos viver de verdade — o adeus ao que nos restringe e à pequenez, para dar espaço ao que nos expande.
Para não ter um colapso, o primo que trabalhava no Banco do Brasil pediu demissão do emprego bem remunerado para abrir sua própria escola de informática. Tornou-se autônomo, trabalhou feliz, enriqueceu, hoje agradece pela sábia decisão de mudar de rumo.
Mesmo uma confeiteira, um dono de bar ou restaurante, um pedreiro, uma cozinheira, tantos mudaram a rota, largaram a fábrica e se tornaram autônomos, enriquecendo em belas emoções.
Eu e Ani sempre tivemos uma afinidade especial. Em São Paulo, nos barzinhos da rua Maria Antônia, convivíamos com alunos, professores e artistas do Mackenzie, muitos hoje diretores de musicais, teatro e novelas. Amávamos a arte, o teatro, queríamos esse mundo para nós. A família não permitiu. Dedicamo-nos então à educação, onde realizamos parte de nossos ideais. Ainda assim, a arte cênica permaneceu como uma chama viva — um sonho dentro de nós.
A arte, em todos os sentidos, sempre foi nossa prioridade.
Desistir é sempre um momento crítico. Todos nós atravessamos dúvidas e até sofrimento. Porém quando a vida nos mostra que aquele ofício já não faz nossos olhos brilharem, o ato de soltar torna-se, paradoxalmente, a escolha mais exuberante e revigorante que o coração pode fazer.
É a libertação!
Dois beijos...