ANI E INÁ

Mundo da fantasia

Ani e Iná
Publicado em 22/02/2023 às 19:00
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Sempre, eu e minha irmã gêmea Ani, nos entristecíamos com os cenários de desigualdade no Brasil. Pessoas com seis refeições diárias e alguns correndo atrás de uma quentinha por dia para repartir com os filhos.                

Sentimos na pele, pela primeira vez, essa pobreza muito real quando fizemos uma viagem no luxuoso navio Funchal, presente da sobrinha afilhada Luciana.       

Nove dias em alto-mar. Tripulação predominantemente portuguesa. Nosso destino eram as praias baianas (Boa Viagem, Trancoso), chegando a Ilhéus, Porto Seguro e Fernando de Noronha. Navegar 294 milhas marítimas com seis personagens com quem iríamos compartilhar shows diários e noturnos e refeições decoradas por chef de cozinha, pratos de várias nacionalidades. Uma mesa eclética e divertida.                         

Atracamos em excursões nas belíssimas praias nordestinas, descemos no sonhado arquipélago de Fernando de Noronha, um santuário ecológico! A ilha da Fantasia. Esbanjamos tudo que tínhamos direito e realizamos nossos sonhos de consumo.               

No último dia, roupa de gala, luzes do navio se apagaram, os garçons desfilavam com enormes “golfinhos de gelo” fosforescentes. Noite do comandante! Uma despedida regada a luxo e fantasia.        

Na sequência, um garçom aproximou-se, pediu que nos dirigíssemos à secretaria e nos informou que o computador estava com defeito, errou, e teríamos que quitar 15 mil reais pelas excursões e bebidas. Nós nos assustamos! Sem fôlego, resolvemos com cheques pré-datados. Acontece que o assunto não é esse.

Dinheiro pouco, computador português deu errado. Olhamos uma para a outra, otimistas! Bom demais voltar de ônibus apreciando a paisagem, a natureza, até a capital Belo Horizonte.                                 

Foi na Bahia que embarcamos de ônibus. Em cada parada entrava uma família. Parecíamos ser protagonistas de um filme mexicano. Levavam galinhas, papagaios e muito desodorante em cima do suor.                                      

De fora, um cenário de desigualdade, grupos de crianças famintas, roupas rasgadas, pés descalços nas terras vermelhas da estrada de chão pedindo dinheiro, uns vendendo água debaixo de um sol de fritar ovos. Situações de extrema pobreza.     

Entendemos, nesse dia, que o mundo é desigual. Crianças sobreviventes, sem acesso a nada. A paisagem magnífica ficou impossibilitada de ver, emocionalmente impactadas, nossos olhos se encheram de lágrimas. A fome e a pobreza são realidades difíceis de enfrentar.                            

Depois desse dia, passamos a ver “com um novo olhar” crianças pedindo dinheiro nas ruas, o que sempre me traz à memória o contato com a desigualdade.

Fico imaginando aqueles garotos, que hoje devem ser adolescentes, sem estudo, sem perspectiva, algo muito cruel.                                

No meu carro confortável, ouvindo música, eu me pego pensando nas fortes lembranças das lindas emoções no “Funchal”, da ilha da Fantasia e com as verdades cruéis das crianças sem acesso a nada, um futuro incerto e desafiador. Esse é o assunto que fica.                 

 Esse “despertar” terrível e real só teve um culpado. Foi ele, o computador português! Com certeza. Ora, pois!

Dois beijos...                                      

Iná e Ani                                              

gemeasanina@hotmail.com

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