Em meio a tantos “mais amor, por favor”, “o amor salva”, “amor é revolucionário”, todos nós temos instantes de raiva. Não é ódio, mas não é fácil suportar a dor de quem te xinga, trai, engana, abandona, hostiliza ou comete injustiças. Nesses momentos, é difícil superar a irritação, ter paciência e evitar revolta. Para não perder o controle, temos que nos afastar, respirando fundo, canalizando essa energia para o equilíbrio.
Reprimir as injustiças é algo prejudicial, pois pode se acumular e se manifestar de maneiras indesejadas mais tarde. Quem não tem irritação quando recebe uma fechada no trânsito, uma “moto” que aparece em fúria da esquerda ou da direita e ainda grita com grosseria te assustando?! Você fica em silêncio, responde no mesmo tom ou é daquelas pessoas que rodam a baiana?
Às vezes, entramos em um estado de irracionalidade, em que a violência parece ser a única saída. As emoções tomam conta e qualquer tentativa de controle ou lógica é ofuscada por uma fúria incontrolável.
No mundo de injustiças políticas, corrupções, ingratidões, vamos mascarando e ignorando; no entanto, quando esses problemas vão aumentando, o ego sai do limite suportável e nos transformamos em agressores, sem nos preocuparmos com as consequências.
Lembranças quando vimos uma roda de moleques em um círculo rindo, preparando-se para colocar fogo na cauda de um cachorrinho, já com quatro latinhas amarradas. Nosso sangue ferveu. Eu segurei o cachorrinho, enquanto Ani desamarrava a parafernália. Ao se libertar, o animalzinho saiu na correria.
Esse foi um dos motivos viscerais de como a raiva pode ser uma força motriz do racional ao irracional, e nos transformamos em dois “pit bulls raivosos”. A intensidade dessa fúria fez com que todos percebessem uma ameaça real, o que fez afastar até os mais corajosos. Esses momentos ilustram a complexidade da raiva expressa no sinal vermelho, com descontrole total. “Quem bate esquece, mas quem apanha nunca esquece.”
Os agredidos deram a resposta com muita raiva, passaram a jogar pedras e areia no alpendre de casa, muita “porcaria”. Como o papai era presidente dos Comissários de Menores, conseguiu que se afastassem. Misericórdia!
Tenho amigas que dizem: “Na minha casa eu sinto raiva o tempo todo”. É o meu companheiro arrastando o chinelo pela casa, abrindo a geladeira sem parar, não sabe onde está nada, joga a toalha molhada sobre a cama, resmunga sem parar. Esse enfurecimento vai se acumulando, o perigo é virar uma bola de neve: a ferocidade da mulher pelo companheiro ou vice-versa. Tentar moldar o próximo é algo em vão!
Com o amadurecimento, temos que aprender e entender a gerir nossas emoções de forma racional, transformando situações difíceis em oportunidades de crescimento pessoal.
Evitar que isso aconteça requer equilíbrio, inteligência emocional. Uma conversa com o desafeto certamente não seria fácil, haveria raiva, mas não fúria, que destrói. Esse diálogo pode mudar e transformar rotas.
Vamos encontrar maneiras e evitar que a cólera domine nossa razão e nos leve a consequências que, muitas vezes, só percebemos quando é tarde demais.
Dois beijos...