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Qual é a sua?

Iná e Ani
Publicado em 17/10/2023 às 19:08
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Escolhas de lugar para vivermos são amplas. Entendemos que nesta vida existem seres urbanos e rurais. Estilos de vida tão diferenciados! Alguns preferem as vibrações, correrias, movimentações e entretenimentos crescentes que as cidades possam oferecer, ou viver em favelas, acreditando nas oportunidades diversas que uma capital ou cidade oferecem. Outros, seu “nirvana” é o campo. Trabalho, fartura, sossego, sinfonia dos pássaros, animais, até as árvores têm alguma forma de comunicação e linguagem. 

Sabemos que preferências individuais variam de pessoa para pessoa. Nesta análise, eu e minha querida irmã gêmea Ani sempre fomos radicalmente urbanas. Certa vez, nossos pais criaram um passeio fora da nossa realidade para passarmos uns dias em uma fazenda dos tios em Goiás. Seria uma afronta se recusássemos, então seguimos com as expectativas dos pais e certas curiosidades. 

Em curvas fechadas, que pareciam não acabar mais, chegamos à fazenda. A tia, uma verdadeira “lady”, com todos os atributos de bondade e habilidades, cumprimentou os caseiros e logo foi tomar seu banho. O tio “torto”, meio coronel, barão, patrão, foi conversar com os peões. 

A sede da fazenda, limpinha, esperava-nos. Acordamos com o galo cantando, colocamos roupas apropriadas, botas e o lencinho no pescoço, falando para nós mesmas: “Vai ser nossa identificação: eu, de lencinho vermelho, e você, de lencinho branco. Ninguém vai nos confundir, e partimos para a aventura no cerradão”. 

A poucos passos, numa encruzilhada, nós nos deparamos com um bode enorme e ameaçador. Uns chifres imensos, uma barbicha bem longa e branca, patas grossas e feias, umas ventas bem abertas, os olhos tão verdes quanto o mato que nos rodeava. Quando arrastou os pés no chão jogando a terra vermelha para o alto, corremos cada uma para um canto, e ele continuou atrás de mim. Subi na primeira cerca que vi e Ani foi atrás do caseiro para me socorrer. Ele espantou o bode raivoso e nos alertou: “Esse é o bicho de estimação do seu tio, o xodó dele, não o maltratem”. Quem avisa amigo é, pois eu já arquitetava planos para matar o bicho. 

E o passeio de uma semana foi assim: eu correndo do bode, Ani com uma varinha espantando o belzebu.  Por que eu?                                     

Ao nos despedirmos do caseiro, quisemos saber o motivo pelo qual o bode só perseguia a mim. Olhando-me atentamente, respondeu: “Menina, esse bode é igual ao touro, ficou enfurecido com esse lencinho vermelho no seu pescoço”. A “ficha caiu”.

Da mesma forma, quando nosso espaço é invadido e nossa privacidade é violada, surgem os conflitos. 

Acreditamos que na vida é fundamental a diversidade de opiniões, um privilégio essencial do ser humano e dos animais. A provocação gera brigas e conflitos.

Que fique o bode no seu céu aberto, seu paraíso, dono do pedaço, e nós, na cidade desafiadora, empolgante, com bares, restaurantes, clubes, igrejas, eventos culturais, a agitação e energia pura. 

Que cada um de nós encontre um lugar “todinho” seu! 

 Dois beijos

                                     

Iná e Ani 

gemeasanina@hotmail.com

Ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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