ARTICULISTAS

Sinal vermelho

Iná e Ani
Publicado em 12/11/2024 às 18:18
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Não é à toa que a palavra "raiva" é feminina. A mulher sabe sufocar essa emoção com maestria por semanas, anos, mesmo com o sinal vermelho no pisca-pisca.

Foi-se o tempo em que mulher corria, fugia dos problemas. Hoje, ela espera, para acionar o gatilho da raiva na oportunidade e no planejamento. Muitas ainda reprimem essa emoção protetiva, mas, quando atinge o ápice, o racional entra em adrenalina, noradrenalina, dopamina e muitos “inas”, e emerge o vulcão.

Quando a irritação ameaça nossa integridade física ou mental, é hora de apontarmos o dedo para o inquisidor. Enfrentamos a situação e percebemos que não somente a indignação é necessária, mas também a energia da mudança.                                                                                                                  

Lembro perfeitamente quando, aos 16 anos, passamos em uma rodinha de jovens alcoolizados e ouvimos um dizer: “As bonequinhas onde vão?” O tom pejorativo, em forma de abuso machista, acelerou nosso coração e nos impediu de seguir em frente. Dentro de nós acendeu a luz vermelha, voltamos ao grupinho e dissemos: “Quem é bonequinha aqui?” O silêncio entre eles, olhares baixos. E em dedo em riste dissemos: “Ficamos com muita raiva, seus tontos, não falem mais isso!”

Naquele momento, nossa indignação nos ajudou a descobrir limites e comunicá-los para os demais. A raiva muitas vezes é vista como algo negativo, mas pode ser um motor poderoso quando usada com consciência e intenção.

Historicamente, as mulheres aprenderam a guardar e engolir ofensas dentro de si, lidando com pressões externas e internas; no entanto, hoje, elas se expressam de maneira justa e consciente. A raiva torna-se um meio de transformação e, sendo positiva e na medida certa, nos leva a reagir com rapidez.

Lembranças de quando, em depoimento na Operação Lava-Jato, Luiz Inácio da Silva dirigiu-se à procuradora da República de forma inconveniente, chamando-a de “querida”. Ela o interrompeu imediatamente, pedindo que ele se referisse ao membro do Ministério Público pelo tratamento protocolar devido. Moro interferiu, dizendo que deveria usar o termo “doutora”. Era um momento que exigia respeito e hierarquia.

Quem não tem uma senhora raiva quando um indivíduo se apossa da vaga em que você está colocando seu carro; quando alguém te coloca a esperar em um compromisso urgente; quando o iPhone toca, saímos correndo e simplesmente é a Claro oferecendo produtos ou desligam. Que raiva!

Enfim, temos muito que aprender com aquilo que nos inflama. A irritação, em muitos aspectos, é uma poderosa professora, que nos leva ao autoconhecimento, revela nossos limites e nos motiva a agir. Em vez de ser reprimida ou ignorada, pode ser transformada em uma força criativa. É uma energia bruta que, quando direcionada de forma consciente, nos impulsiona a transformar tanto o ambiente ao nosso redor quanto a nós mesmos.                 

Em uma passagem do Evangelho, Jesus ficou irritado quando encontrou dentro do templo vendedores de animais, cambistas, quer dizer, um mercado. Assim, Ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do local sagrado. Essa atitude do Senhor certamente foi realizada com um sentimento de indignação e raiva.                                                          

Existem vários tipos de raiva: só não vale a raiva mascarada.                                              

Vamos tentar canalizar essa emoção de forma consciente. Ela nos empodera, nos ajuda a enxergar com clareza os obstáculos, nos motiva a definir nossos limites e nos posicionar. Ela nos lembra que temos o direito de exigir respeito, dignidade e justiça. A raiva é, portanto, uma ferramenta poderosa e desafiadora.

Dois beijos...

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