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Tapete vermelho

Ani e Iná
Publicado em 30/10/2025 às 18:03
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Já escrevi que, em muitas famílias, há muitos preguiçosos.

Mas quem é que nunca teve um parente — ou uma parentada — caloteiro?                                                                Eles ganham a confiança da família, chegam com aquele discurso convincente e, quando pedem uma quantia, a gente já sabe que não vai ver o dinheiro de volta. Mas também o malandro sabe que vai ficar impune, porque ninguém tem coragem de denunciar à polícia um parente safado.

Tivemos vários trapaceiros na família, mas teve um primo que… ah, esse merecia tapete vermelho e o Oscar da malandragem!

Lembro quando chegou à minha casa com olhar deprimido e um pedido modesto: “Prima, surgiu um trabalho excelente, mas preciso fazer o curso. Hoje é o último dia de inscrição, é para o IBGE!”. Dei-lhe o valor pedido. A inscrição realmente existia, mas o nome dele nunca apareceu na lista. Pegou o dinheiro, e o tal curso — pelo visto — foi feito em Marte.                                                                                                     Fez o mesmo com Ani. Disse que precisava de uma pequena quantia, nunca arredondada, para o nome não ir ao SPC. Era sempre “o último dia”. Ani, com o coração bom, acreditou. Lágrimas escorriam pelo rosto do primo, e lá se foi ele com o dinheiro garantido por uns dias. Inadimplente, já estava há muito tempo.                                  

Porém, como colocar na cadeia um primo que te passou para trás? O jeito é perdoar o golpe — e engolir a mágoa de ter sido enganada.

O primo não perdoou nem o tio: “Vocês são as únicas pessoas que podem me ajudar. Estou morando nas ruas”. E os tios, com o coração mole, acabaram cedendo. Após um mês de boa convivência, apareceu o dono da mercearia com uma caderneta de fiado: uma conta alta de cigarros e bebidas. Nessa altura, o primo já tinha vazado. O que mais doeu não foi o dinheiro, mas o descaso, a falta de consideração.

O calote na família não é só questão de dinheiro — é questão de confiança. E, quando a confiança vai embora, a tristeza e a ingratidão vêm juntas. O jeito é perdoar o golpe, mas a lição fica.                                                                                                                             

O golpe mais teatral, no entanto, era o da rodoviária.

Ele chegava chorando, comovendo a todos: “Minha mãe morreu… Preciso viajar urgente pra me despedir da mãezinha!”. O público, sensibilizado, contribuía generosamente. E ele, com bolsos cheios, pegava o ônibus e partia — não para o velório, mas para um passeio.

Há pessoas que nasceram com alma de artista vilão. Muitos não sabem usar a palavra “não”, principalmente com parentes. Se você consegue, parabéns!

Ninguém educa um safado com bondade — nesse caso, isso é sinal de bobeira.

Você já passou por isso? Ser enganado, cair em um golpe… é uma dor que mistura raiva, vergonha e um nó de ingratidão. Quando vem de um estranho, a gente supera.

Porém, quando parte de um amigo, de uma amiga — ou, pior, de um parente —, a ferida é mais funda. Porque a traição vem com o peso da confiança. E a gente nunca acredita que isso possa acontecer com a gente… até acontecer. Se a gente sabe que, ao emprestar, não vai receber de volta, então, depois de alguns anos, o erro não é mais do outro… é nosso.

O pior tipo é o caloteiro charmoso: aquele que fala baixo, sorri bonito, aperta forte sua mão demonstrando amizade e jura que “na semana que vem acerta tudo”. Sabe se fazer de vítima com uma maestria digna de ator premiado. Quando fala, parece até que está te fazendo um favor por aceitar o seu dinheiro. É educado, gentil e cheio de histórias comoventes… até você perceber que já caiu na mesma conversa umas três vezes, e, quando você finalmente diz “não”, ele ainda se ofende — como se a ingratidão fosse sua.

No fundo, esses caloteiros carismáticos não enganam apenas os outros, enganam a si mesmos, achando que charme é sinônimo de caráter.                              

Malandro é malandro e mané é mané. Enquanto existir mané, o parente faz a festa e você cai no golpe.  

Dois beijos...

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