É de se assustar, nesse tempo de depredação da natureza, encontrar a árvore da vida – o baobá. O que vimos tem mais de 200 anos e naquela região há cinco deles. No mundo todo são dezessete árvores como aquela encontrada na praça principal do Recife. Conta-se que escravos tiravam da ávore-mãe desde água, roupas, cola e remédios a alimentos. Saint Exupéry faz alusão a ela no “Pequeno Príncipe”. Seu diâmetro é enorme, não dá para abraçá-la. Pudera, se tem vida para mais de mil anos, cansa-se de afagos, certamente.... Ou os vê como acentuado interesse! Estavam presentes em todas as senzalas africanas. Pela Praça da República, deuses nos espreitavam; caminhávamos em direção ao antigo presídio, respirando história nos vários painéis com poemas e figura de Frei Caneca, preso e fuzilado em revolução. Hoje se enfeita de artigos artesanais, recebendo artistas, bastante visitada por turistas, tornando-se a Casa da Cultura. As toalhas de fibras de coco mostram trabalhos admiráveis, além da renda renascença, belas e caras! Passamos pelo rio Capibaribe, terceiro mais poluído do mundo (!). A estátua de Gilberto Freire nos contempla, como também a de Joaquim Nabuco. Atravessando a ponte velha, construída pelos ingleses e denominada Vinte e Cinco de Março, descortinou-se “Olinda, cidade mulher/Que “pariu” outras cidades/Olinda, cidade rainha/Que amamentou seu primogênito/O Recife/E terminou cedendo-lhe o cetro/De capital de Pernambuco”. Versos de Marcos Freire (1931-1987), pai de Roberto Freire e que foi professor, prefeito, deputado federal, senador e ministro. Olinda possui vinte e duas igrejas e onze capelas. Do morro, onde nasceu, descortina-se visão sublime. Suas incontáveis belezas fizeram-na Patrimônio universal, com seu Mosteiro franciscano, ponto mais alto da cidade e datado de 1577, onde azulejos expostos contam histórias bíblicas. Na igreja de Nosso Senhor das Neves, pintura em azulejos mostra a circuncisão do Menino Jesus. Na igreja da Sé, onde se encontram os restos mortais de dom Elder Câmara, e na mesma rua, o Marco Zero, que todo ano entre 5 e 6 de dezembro a Terra dele se aproxima, oferecendo placa alusiva às medições de proximidade com o astro-mor. A casa de Dom Elder, hoje Museu; as muitas tendas com as tapioqueiras (a de coco e leite condensado adoça a vida!). Na Ladeira da Misericórdia, uma passadinha no ateliê de J.Calazans para admirar suas obras-primas de tintas fortes e famoso no exterior. Bom papo, fotos para mostrar. Uma espiadinha no Mercado da Ribeira, hoje casa de artesãos. A história relembra o comércio de escravos colocados à leilão. “Dona Flor e Seus Dois Maridos” reacende à memória com o protagonista descendo nu a rua São Bento de número 317. Mais abaixo, a de número 182 denuncia a casa de Alceu Valença, com belo carro importado estacionado. Avista-se, ali mesmo, a casa de onde se deu o primeiro “grito” da Proclamação da República, sonhado desde 1710... Mais outro grito famoso ecoa em todos os carnavais, que dali parte “incendiando” a cidade. Mas o que realmente a história conta é que o Mosteiro de São Bento, em 1631, fora incendiado e restaurado em 1761. E no ano de 1831, a 1º de agosto, ali iniciara o primeiro curso de Direito, recebendo alunos ilustres: Rui Barbosa. Um século depois, cessou atividades, tornando-se igreja de São Bento, com 22 quilos de ouro no altar-mor. Entramos e rezamos juntamente com os beneditinos, convidando à oração. Fato histórico, a Câmara dos Vereadores, na Praça do Varadouro, onde morou irmã de Mauricio de Nassau, porque não conseguiram expulsá-la, certamente...
Histórias dando vida à imaginação em milenares fatos formantes da cronológica árvore da vida!
E boa oportunidade de conhecer em novo ano que se inicia abraçando-se a árvore da vida!
Arahilda Gomes Alves
Cadeira 33 da ALTM
