Se Adão emprestou a sua coluna vertebral para que Deus moldasse uma Eva escultural, que logo, logo, o fez pecar, são mil tratados para estudos. Tanto que, no reino da bicharada irracional, se o macho é mais bonito que a fêmea, talvez, porque viu que o inverso acarretaria situações difíceis de sanar. Daí, levar até Adão uma Eva nua de paixões, enquanto o fazia dormir e sonhar. Colocou-lhe frutas nobres – a maçã e a uva – sem ainda ter nascido o vinho e saber que a folha de uva, que cobriu Eva, seria de mil utilidades na cozinha árabe.
A cobra, na macieira, enroscava-se qual parafuso, apertando os “parafusos” soltos da cabeça de Adão. A língua – veneno, que não era nenhuma menina veneno da cobrinha, dançava em pirotecnias, ressoando, ou melhor, azucrinando em labaredas, na “Dança ritual do fogo”, bem antes do espanhol De Falla a compor...
O paraíso era um oásis entre folguedos e carícias, com o vento assoviando mil canções de amor e na “Fascinação” sonhava sonhos e quimeras mil em castelos erguidos.
Águas corriam em cascatas cristalinas, sem enxurradas e catástrofes, porque a humanidade não acordara para a devastação e os maus-tratos para com a natureza dadivosa. Os animais brincavam aos pares, ouvindo diversos timbres do “Le Carnaval des Animaux”, do francês Saint-Saëns, insinuando ao homem inocente que tais folguedos não eram para seu enxerido septo nasal, que só tinha o hábito de cheirar as madeixas cacheadas de Eva, tão loiras, que ofuscavam a luz solar. “As quatro estações”, que Vivaldi, o mestre italiano do dissertativo poema sinfônico comporia, estavam bem pinceladas nas paisagens ante a primavera e o outono, que disputavam os melhores “embalos de sábado à noite”, ensaiando coreografias aos primeiros habitantes boiando nas águas azuis-turquesa oceânicas, em correto verão, não fora a primavera cacheada e o outono frutífero trazerem os frutos do pecado.
O paraíso era tão “sopa” de lá morar, ao som da Nona Sinfonia de Beethoven, com seu “Canto da Alegria” ecoando ecologicamente na natureza em constante “Sagração da Primavera”, do russo vanguardista Stravinsky, que dormia séculos antes de vislumbrá-la. Acordemos Adão. Deixêmo-lo admirar Eva, tão sincera como a Aurora de outros carnavais.
A cozinha do paraíso de Adão, de variados cardápios, produzia acepipes naturais sem agrotóxicos, não aumentavam as gordurinhas da bicharada. Eva, que viera de DNA do homo sapiens, nascera sabida, fugindo aos lipídios e glicídios e vida sedentária, que lhe pudessem derrubá-la com AVC, câncer e diabetes. Doce, a Eva esculpida por Deus dava-lhe atributos angelicais e lábios de mel, mais doces que o de Iracema, a que José de Alencar criaria para superar Eva. Um coração e uma cabeça que batiam de forma arrítmica, para que um não entrasse na sintonia do outro, provocando avassaladoras paixões e compaixões.
E no sono aconchegante da mulher cultivando todas as outras, através de mutações recriando novas características, crescem em sabedoria e idade, beleza e atributos mil. À fêmea-mulher, tão especial, juntou graça e vontade de criar muitas outras Evas: artistas, mães, amantes, cozinheiras, executivas, ruralistas, falantes e sagazes, havendo necessidade de se criar o Dia Internacional da Mulher, que não dá “sopa”, tendo doçura e força, poderes mágicos na valorização de sua costela!
Arahilda Gomes Alves