“Ao ouvi-la, imaginava-se uma mulher sofrida e melancólica”.
Com copo de whisky e cigarro, abandonada e depressiva como as canções que cantava, ao contrário, era sempre bem-humorada, adorando uma conversa com amigos jornalistas e escritores. Sua gargalhada contagiava e era ouvida à distância.
Aos 10 anos, participou do programa Ary Barroso, cantando em espanhol e português o bolero “Vereda Tropical”, levando a nota máxima e 500 mil reis de prêmio! Aos 16 anos, cantava em todos os idiomas, inclusive o esperanto.
Autodidata, sem frequentar a escola, aprendera sozinha, conversando com amigos. Morou nos distantes subúrbios do Rio e, com o falecimento do padrasto, ajudava a mãe com os prêmios que ganhava. Aos 16 anos, na boate Vogue, César de Alencar, encantado com sua interpretação, levou-a para seu programa da Rádio Nacional. Em 1950, frequentava boates, entornando garrafas de whisky entre amigos: Fernando Lobo, Di Cavalcante, Antônio Bandeira, Tom Jobim e Vinícius, Billy Blanco, com quem namorou e fez parceria nas muitas canções. Em 1952, “Canção da Volta”, de Ismael Neto e Antônio Maria. Dolores fazia imitações de vários cantores, reproduzindo até o timbre. Agradava a multidões, porque cantava, dançava, ria e saracoteava.
Em parceria com Tom Jobim, compõe a primeira música “Se é por falta de Adeus”. Em 1957, com Jobim e Vinícius, nasceu com ela “Por causa de você” e, escrevendo bilhete a Vinícius, se concordava com a letra, ele, elegantemente, rasgou a sua, elogiando a da colega. Contudo, ela percebeu o erro, comentando com Mário Lago e Nestor de Holanda: “Não deixe o mundo mau-lhe-levar outra vez...” Ao que eles responderam: “Não se preocupe, os críticos nada sabem de regência”.
Em 58, cria com Tom Jobim “Estrada do sol”: “É de manhã / vem o sol com os pingos da chuva / que ontem, caiu...”.
Dolores Duran compôs com eles 25 canções. E muitas outras, sem saber música, inclusive, “A noite do meu bem”, “Fim de caso”, “Castigo”: “A gente briga / diz tanta coisa que não quer dizer...”. Elogiadíssima por Antônio Maria.
Na madrugada de 24 de outubro de 1959, aos 29 anos, depois de muito se divertir, ao chegar em casa, às 7 horas, disse à empregada: “não me acorde; vou dormir até morrer”. E sorriu. Foi seu último sorriso!...