“O ‘choro’ era, apenas, um gênero musical que ela o transformou cantado com muito bom gosto, talento e carisma”. Cito, “Brasileirinho”: “O brasileiro quando cai no samba / Não fica abafado / É um desacato / Quando chega no salão”. “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu: “Um tico-tico só, um tico-tico lá / Está comendo todo, todo o meu fubá”... Todos, sem perder afinação e com dicção perfeitas!
Cantora sempre requisitada pelas emissoras, Ademilde Fonseca nascera em março de 1921, no estado do Rio Grande do Norte, já residindo em Natal, aos quatro anos de idade. Desde criança, gostava de cantar, e aos 21 anos, como quase todo nordestino, muda-se para o Rio.
Após um teste na Rádio Clube do Brasil, fora escalada para o programa de Renato Murce, na Rádio Nacional. E apresentada a João de Barro, o Braguinha, diretor da gravadora Colúmbia, grava “Tico-tico no fubá”, que estourou na praça. Em seguida, o “Apanhei-te cavaquinho”, de Ernesto Nazaré, e “Urubu malandro”, de João de Barro, alcançando sucesso superior aos anteriores. Como a maior representante do gênero, tornou-se a “Rainha do chorinho” e volta à parada de sucessos com o choro “Brasileirinho”, de Valdir Azevedo.
Ao lado de grandes nomes, como Jamelão e Elizete Cardoso, em festa organizada por Chateaubriand, em Paris, promovendo o algodão brasileiro (com jagunços lembrando o Nordeste), Carlos Lacerda escrevera: “Não podendo, em alto feito, entrar para a História, ele se contenta em entrar para o anedotário”.
Ao ler, Chatô deu uma gargalhada e comentou: “Esse cara é inteligente, mas merece receber umas boas porradas!”.
A Rádio Nacional era o sonho de todo artista brasileiro, projetando-o em época de ouro. E Ademilde Fonseca lá se achava, encantando a um americano, que comparou sua voz a um cavaquinho.
De 1950 a 1955, Ademilde gravou “Delicado” e “Pedacinho de céu”, ambos de Valdir Azevedo. “Meu Cariri” e “Galo garnisé”, de Dilu Melo e Luiz Gonzaga, respectivamente.
Ademilde Fonseca desenvolveu o “chorinho” como âncora da música brasileira, inovando-a. Quando o choro era apenas um GÊNERO musical, ela o transformou em ESTILO, cantado com talento e carisma!
Arahilda Gomes Alves